Na última semana do segundo turno das eleições presidenciais, a nova
narrativa da grande mídia para atingir a campanha de Jair Bolsonaro foi tirada
de uma declaração de seu filho Eduardo, o deputado federal mais votado da
história brasileira, em palestra proferida na AlfaCon Concursos Públicos 1.
Questionado se o Exército poderia agir mesmo sem ser provocado, com base
na Constituição, caso o STF impedisse Jair Bolsonaro de assumir o cargo de
Presidente da República, Eduardo respondeu, em suma, que a pergunta caminha
para o Estado de exceção, em que o Judiciário teria que “pagar para ver” ao
impugnar a vitória de um candidato eleito pelo povo, e que seria “o STF contra
nós”. Disse que é algo que muitos falam que pode acontecer, mas pouco pode ser
dito; e duvidou da força do STF para tanto. Lembrou que há quem brinque dizendo que para fechar o STF não é necessário o Exército intervir, basta enviar
um soldado e um cabo. Também lembrou que os ministros da Corte não gozam de
apoio popular; e que ninguém iria às ruas pedir a soltura de um deles que
porventura fosse preso. Enfim, concluiu, essa é uma resposta que só pode ser
dada se a campanha de Jair Bolsonaro for realmente impugnada, mas que não acredita
que isso seja feito, porque uma coisa é fraudar 1% ou 2% dos votos nas urnas,
outra é fraudar 40%.
A declaração não deveria causar espanto, principalmente pelo desdém direcionado
a planos, ameaças e tentativas da esquerda de censurar o
Judiciário, disfarçados por eufemismos como democratização, democracia
participativa e submissão à vontade popular, p.ex. Quem não encara a resposta de forma enviesada, percebe que o apoio
popular norteou o comentário, e não houve ameaça alguma às instituições, as
quais, diga-se, funcionam muito bem para tocar a agenda progressista, apesar do
falso discurso de algumas autoridades.
Mas, sim, essa foi a grande oportunidade que a imprensa, que aderiu a um
lado, encontrou para atacar, e provocar a “instabilidade da vez”. E, como não
poderia deixar de ser, a notícia foi reproduzida por todos os canais da mídia
tradicional.
O Globo noticiou que Eduardo usou um “tom de
ameaça” ao falar sobre a possibilidade de o STF impugnar a candidatura de seu pai 2. O veículo também afirmou que “ao longo de sua campanha, Haddad tem mostrado afirmações feitas
por Bolsonaro em defesa da ditadura e da tortura”, e que a estratégia
do PT é “mostrar que seu candidato representa a democracia” 3. (destaquei)
Fernando Haddad não perdeu a oportunidade. Disse que o filho do
adversário “ameaçou fechar o STF (Supremo Tribunal
Federal) com uma intervenção militar” 4;
e assim se referiu a Bolsonaro e seus
filhos: “Esse pessoal é uma milícia. Não é um candidato a presidente. É um chefe
de milícia. Os filhos deles são milicianos, são capangas. É gente de quinta
categoria”.
Haddad responde a 32
processos, acusado de receber dinheiro (na operação
Lava Jato), de caixa 2, de improbidade administrativa e de superfaturar obras.
Segundo a revista Isto É, “o candidato reproduz o modelo petista de malfeitos
na gestão pública”. “Malfeito”, diga-se, foi
o eufemismo utilizado pelo PT para amenizar o peso real dos crimes de corrupção
e de formação de quadrilha, p.ex.
A revista chama a
atenção também para o fato de que, além do seu envolvimento direto em várias
irregularidades, a equipe de Haddad é formada por pessoas também processadas
por crimes na Lava-Jato, o que dá indicativos concretos da reativação
da máquina de corrupção petista; e continua: “além do
risco de retrocesso ético, a eleição de um novo poste de Lula para o cargo de
presidente resgatará a ameaça da ineficiência e da incompetência administrativa
que marcou a gestão de Haddad tanto à frente da Prefeitura de São Paulo, como
do Ministério da Educação” 5.
O parceiro de Estratégia das
Tesouras, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, usou a conta do Twitter pra
dizer que: “as declarações do deputado ‘cruzaram a linha, cheiram a fascismo’”,
e devem ser repudiadas pelos democratas, pois “ameaça o STF”.
Mas, cadê a
grande repercussão sobre o Plano de Governo do PT para a Presidência, que fala da necessidade de democratizar “as estruturas do Poder Judiciário e
do Ministério Público”, e que, para tanto, devem-se instituir medidas que estimulem “a participação e o controle
social” no âmbito dessas instituições 6?
Matéria do site Consultor
Jurídico, destacou que, após “o PT, ser duramente atingido pela operação ‘lava
jato’ e ter seu líder – Lula – condenado, preso e declarado inelegível, o
candidato a presidente Fernando Haddad quer maior controle sobre o Judiciário e
o Ministério Público”. Haddad teria dito que “o Judiciário brasileiro não é
transparente e que não há controle suficiente sobre o órgão”, pois mesmo depois
da Constituição de 1988, manteve-se fechado ao controle e à transparência,
apresentando “grande resistência às mais simples formas de abertura e prestação
de contas à sociedade”. Uma das soluções seria “instituir ouvidorias externas,
ocupadas por não magistrados”, com o objetivo de “ampliar a participação da
sociedade na fiscalização da instituição” 7.
Em regra, a “ampliação da participação da sociedade” está ligada à criação de
sovietes/comitês bolivarianos, cuja função é retirar das mãos do eleitor o
poder de escolher seus representantes. São antros da esquerda, criados ou
capturados seguindo a teoria da ocupação de espaços, concebida por António Gramsci.
Há
poucos meses, o petista Wadih Damous, veiculou um vídeo nas redes sociais,
dizendo que o STF deve ser fechado, e o Poder Judiciário, redesenhado. Sua ira se
justificava pela prisão do ex-presidente Lula da Silva, e pelo fato do ministro
Luís Roberto Barroso ter negado um habeas corpus preventivo. O deputado disse
também que os ministros do STF não podem ditar “os rumos do processo eleitoral,
da escolha popular e da democracia brasileira”, pois “não foi para isso que
essa turma foi colocada lá”. Ao final, afirmou que vinha alertando aos
deputados federais: “ou nós enquadramos essa turma ou essa turma vai enterrar
de vez a democracia brasileira” 8.
Não
houve estardalhaço, a imprensa não questionou o significado de “o motivo da
turma ter sido colocada lá” e “ou enquadramos essa turma”. Nem o STF repudiou imediata
e veementemente as alegações que, essas sim, comprometem o Estado de direito,
ameaçam as instituições que, sempre dizem, “estão funcionando”. Talvez a
assessoria de nenhum ministro tenha sido eficiente como a da Ministra Rosa
Weber 9.
Além de Rosa Weber, outros membros
do STF também criticaram as declarações de Eduardo Bolsonaro 10.
Segundo o ministro Celso de Mello:
“a declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo
(irresponsável) de parlamentar cuja atuação no Congresso, mantida essa
inaceitável visão autoritária, só comprometerá a integridade da ordem
democrática e o respeito indeclinável que se deve ter pela supremacia da Constituição”.
Celso de Mello protagonizou a história em que o jurista Saulo Ramos o chamou,
depois de já estar empossado no Supremo, de “juiz de merda”, como relatado no
livro de memórias “Código da Vida” 11.
Já o ministro Alexandre de Moraes, após
tecer sua crítica, pediu que a Procuradoria-Geral da República abra um
inquérito para investigar as declarações.
José Dirceu, condenado
a mais de trinta anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e
organização criminosa na Lava-Jato, tempos atrás criticou
o Ministério Público, por ter se tornado uma corporação
privilegiada, sem controle algum, quando o STF lhe reconheceu poderes
investigatórios. Para ele, o órgão deve se limitar à tarefa de acusar. Ainda disse
que a Lava-Jato é um dos maiores erros do país, sendo a grande responsável pela
“estagnação econômica”, pois o combate à corrupção na operação possui fins
políticos, e viola o ordenamento jurídico 12.
Há poucos dias,
ao ser questionado da “possibilidade de o PT ganhar essas eleições e não
levar”, Dirceu respondeu que a comunidade
internacional não aceitaria, mas que “dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o
poder, que é diferente de ganhar uma eleição” (destaquei). Da mesma
forma que aconteceu com as ameaças de Mauro Iasi à vida de direitistas, a
declaração intimidatória de Dirceu não foi encarada com a seriedade requerida.
Sobre
o possível governo de Jair Bolsonaro, Dirceu afirmou: “Bolsonaro
é o Temer mais a regressão de comportamento cultural e o autoritarismo não
democrático”. Certamente, o ex-guerrilheiro justifica antecipadamente o uso da
força para a tomada do poder das mãos de Bolsonaro, se ele for eleito, “em nome
da democracia” e “contra o autoritarismo” 13.
Só o interessado, ou o
bastante alienado, não enxerga o exagero da repercussão dada às declarações
e/ou ações de Bolsonaro e seus colaboradores, pela mídia que abafa a divulgação
de crimes, ameaças e declarações infelizes de seus adversários. Chega a ser
hilário ouvir a esquerda e sua militância vociferando que a mídia nacional é golpista
e de direita, enquanto está muito claro qual é o seu lado.
O fim das eleições presidenciais se aproxima, e uma vitória acachapante
está desenhada, mas os jornalistas da mídia tradicional, que vestem
despudoradamente a camisa da militância, não desistem, e chafurdam em cada canto da internet à procura de material que desabone
a campanha abraçada (e de graça!) pelo povo, o que é inaceitável para seguidores
de uma ideologia cujos detentores do poder e apaniguados, usam como um dos
principais meios de ação, comprar as pessoas que foram tornadas cativas, dando
e tomando, ao bel-prazer, bens, dinheiro e a própria dignidade desses que lhes
são submissos.
Enquanto buscava com avidez a descoberta de fatos e notícias impactantes
contra Jair Bolsonaro, usando inclusive muitas fake news, a imprensa, que finge
ser isenta, não percebeu que caía no ridículo mediante a opinião pública,
aquela que antes era manipulada, (de)formada a partir dos parâmetros
estabelecidos pelo establishment. Para piorar, deu voz a seus aliados do meio artístico,
político e da Academia, para formar uma cruzada com o objetivo de censurar as
redes sociais, que libertaram a população, permitindo-lhe escolher o acesso a
informações sem manipulação.
Parece que as cabeças pensantes da grande mídia estacionaram seu campo
de visão na espiral do silêncio 14,
da qual sempre lançaram mão para calar vozes dissonantes, e não estão
preparadas para os tempos do anti-frágil, teoria de Nassim Nicholas Taleb que
Flavio Morgenstern tão bem contextualizou ao analisar a situação do próprio
Jair Bolsonaro 15, que
sempre saiu ainda mais fortalecido de cada campanha contrária (muitas vezes
injustas e/ou mentirosas). Como dizem os fieis eleitores: o “Mito” é como massa
de pão, que cresce mais a cada pancada que recebe.
NOTAS
1 Eduardo Bolsonaro e Evandro Guedes no Presencial de Cascavel-PR. AlfaCon Concursos Públicos,
10/07/2018. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=csHwfjD-Hhs;
2 A matéria traz na íntegra o
que foi falado por Eduardo Bolsonaro: Em
vídeo, filho de Bolsonaro diz que para fechar o STF basta “um soldado e um
cabo”. G1, 21/10/2018. Disponível
em https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/10/21/em-video-filho-de-bolsonaro-diz-que-para-fechar-o-stf-basta-um-soldado-e-um-cabo.ghtml;
3 Roxo, Sérgio. Haddad reage a vídeo em que filho de Bolsonaro ameaça STF: família é um
“grupo de milicianos”. G1, 21/10/2018. Disponível em https://oglobo.globo.com/brasil/haddad-reage-video-em-que-filho-de-bolsonaro-ameaca-stf-familia-um-grupo-de-milicianos-23173818;
4 No Maranhão, Fernando Haddad diz que filho de Bolsonaro ameaçou STF.
Folha de São Paulo, 21/10/2018. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/no-maranhao-fernando-haddad-diz-que-filho-de-bolsonaro-ameacou-stf.shtml;
5 OLIVEIRA,
Germano. Uma extensa ficha corrida. Isto é, 04/10/2018. Disponível em https://istoe.com.br/uma-extensa-ficha-corrida/;
6 Plano
de Governo do PT 2019/2022. Fernando Haddad, Presidência da República. Disponível em http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2018/08/plano-de-governo_haddad-13_capas-1.pdf;
7 RODAS,
Sérgio. Haddad defende mandato
para ministros do STF e redução de benefícios do Judiciário. ConJur, 24/09/2018. Disponível em https://www.conjur.com.br/2018-set-24/haddad-mandato-stf-reducao-beneficios-judiciario;
8 Maia, Gustavo. “Tem que fechar o Supremo Tribunal
Federal”, diz deputado do PT. UOL, 13/04/2018. Disponível em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/04/13/tem-que-fechar-o-supremo-tribunal-federal-diz-deputado-do-pt.htm?fbclid=IwAR0kPn61l5wplG24GiwlbJxSmtD2zivqg_JrcxAccW9QUNj-K51x9T8M3a0&cmpid=copiaecola;
9 Rosa
Weber rebate fala de Eduardo Bolsonaro sobre STF. Estadão, 22/10/2018. Disponível https://exame.abril.com.br/brasil/rosa-weber-rebate-fala-de-eduardo-bolsonaro-sobre-stf/;
10 Ministros do Supremo reagem às declarações de Eduardo Bolsonaro. Jornal Nacional, 22/10/2018. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/10/22/ministros-do-supremo-reagem-as-declaracoes-de-eduardo-bolsonaro.ghtml;
11 “Entendi que você é um juiz de merda”https://www.oantagonista.com/brasil/entendi-que-voce-e-um-juiz-de-merda/;
12 Góes, Bruno e Megale, Bela. 'Tem que tirar o poder de
investigação do Ministério Público', diz Dirceu. O Globo,
30/09/2018. Disponível em |https://oglobo.globo.com/brasil/tem-que-tirar-poder-de-investigacao-do-ministerio-publico-diz-dirceu-23114884;
13 ROSSI, Marina. José Dirceu: “O
problema do Bolsonaro é do PSDB e DEM. Sem Lula, temos Ciro e Haddad”. El
País, 26/09/2018. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/24/politica/1537815456_213002.html;
14 Para
melhor entender o tema: NoeLLE-NeUMAnn,
Elisabeth. A espiral do silêncio –
opinião pública: nosso tecido social. Florianópolis: Estudos Sociais, 2017;
15 Morgenstern, Flavio. A
anti-fragilidade de Bolsonaro. Senso Incomum, 26/04/2016. Disponível em http://sensoincomum.org/2016/04/26/a-antifragilidade-de-bolsonaro/.
[Texto originalmente publicado no portal Análise Inversa]
Fernando César Borges Peixoto
Advogado,
niteroiense, conservador, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.