Estava eu bebericando após o almoço – na verdade, a
feijoada da sexta –, jogando partidas de sniper assassin, quando, ativado pelo
organismo, pensei em me dirigir ao banheiro. Número 1. Ao levantar os olhos,
percebi que um habitué do boteco havia partido naquela direção, e resolvi
esperar. Graças ao bom Deus comecei uma nova partida e me saí muito bem, o que
levou a outra, e a outra, e a outra...
Quando dei por mim, o sujeito estava enchendo um
balde atrás do outro numa bica que ficava a uns 3 metros de onde eu estava. Em
seguida, chegou o dono do bar. Um verdadeiro soldado medieval, um Dom Quixote de la Mancha equipado com sua lança... No caso, ele empunhava uma vassoura, além de carregar rodo, sabão em pó e máscara – máscara de coronavírus, aquela que não
serve para porra nenhuma. Não, não era um elmo.
Começaram ali os pedidos de desculpas ao
proprietário, o que foi suficiente para revelar que a coisa não cheirava bem.
Porém, eu precisava (mesmo) me aliviar; e decidi partir em direção à câmara de
tortura. Bem lá no fundo, sabia o que enfrentaria, mas era dia de sorte e no
meio do caminho o proprietário me interceptou, desviando a rota para o banheiro
feminino.
Alívio, esperança... tudo momentâneo. Alguma senhora
respeitável havia lambrecado a louça de bosta, "chamou" a descarga,
mas largou para trás o produto restante. Triste sina... (Aliás, segundo a
mitologia botequinesca, os banheiros femininos são nojentos.)
Juro que tentei ajudar o proprietário, mirando a
"ducha" no "cimentado". Queria resolver, dar um fatallity,
mas mangueira velha não apaga fogo novo; e algo ficou para trás.
Bom cliente que sou, ao sair daquele sanitário, avisei
que ali também jazia material radioativo abandonado por soldada inglória.
O habitué cagão aproveitou para renovar suas (milésimas)
humildes desculpas, e foi saindo, sem deixar de dizer que ia a casa tomar banho
para já, já voltar. Cheiroso, por óbvio.
O proprietário disse que a louça barreada do
banheiro feminino era o céu, pois o masculino estava todo chapiscado, com um cheiro
que reproduzia o dos ciclos dos infernos.
Um pouco mais tarde, o moço voltou. Cabelo molhado, banho tomado,
perfume, talco, bermuda marrom (?). Dirigindo-se ao proprietário, disse que notou
um riso cínico no canto da boca das garçonetes enquanto entrava: “Você falou
algo para elas?” - perguntou.
Como não houve resposta, ele rompeu o silêncio para
começar a colocar a culpa no "remédio" que estava tomando. Sinceramente,
achei-o magro para usar xenical, mas...
Vida que segue. Voltei-me aos meus pensamentos, e
agradeci a Deus por ser bom de mira, pois todas as vezes que usei o sanitário
do bar para o número 2, larguei as bombas à distância, mas acertei todas no
alvo. Por obra do Senhor, outra sorte: a fedentina era contornável.
Fechei a conta, paguei, e lá fui caminhando pela
rua, divagando sobre os acontecimentos inusitados daquele dia...
Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.