Aquela
incontinência urinária o incomodava há meses, e pouco depois de adentrar e se
instalar no restaurante, sentiu vontade de ir ao banheiro. Levantou-se da
cadeira e seguiu os passos já conhecidos, naquele jeito de quem se espreme para
não fazer ali mesmo, nas calças.
Bastou
entrar e se trancar para ouvir tiros-gritos-tiros.
Ficou
em estado de choque. Mijou igual um chafariz, molhando tudo ao redor, inclusive
o sapato, e quando voltou a si, Penélope esmurrava a porta, gritando seu nome,
histérica – quase como a moça do “Igu néra guei?” –, e perguntando se ele
estava bem.
Saiu
sem dar a descarga, e ela, sem tomar fôlego, foi logo o colocando a par dos
acontecimentos, metralhando palavras desconexas.
Ao
final, ele compreendeu que dois encapuzados haviam invadido o recinto e
disparado vários tiros, a boa distância, no careca que estava sentado ao seu
lado.
-
Podiam ter acertado você, Tavinho. - E chorava...
Foram caminhando, e Tavinho já estava com tudo sob controle, apesar de incomodado com aquele sangue que
saía do corpo do sujeito inerte, ainda descoberto, olhos esbugalhados e rosto
deformado, esburacado pelas balas que o atingiram.
-
É, podiam ter me acertado - respondeu. - E eu reclamando de meu problema. Vejo
agora que isso só pode ter sido coisa de Deus: uma doença enviada por Deus... - falou,
pausadamente, para encerrar, enfático:
-
Não havia escolha. Era incontinência ou morte!
Fernando César Borges Peixoto
Advogado,
niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma,
um saudosista que agora inventou de escrever poesia.