terça-feira, 16 de agosto de 2016

As primas, as madonas e as prima-donnas

Tenho acompanhado pelo noticiário, no período das Olimpíadas, que jornalistas e atletas estrangeiros têm reclamado de muitas coisas do Brasil. A que mais me atingiu até agora, confesso, foi sobre o biscoito “grôbio”, aquele que dá mais graça à curtição da praia.
Uma coisa eu preciso dizer: realmente, o primeiro contato que minha esposa e meus filhos, que são capixabas, tiveram com o “grôbio”, não foi muito agradável. É que os ambulantes compram em “quantidades absurdas” e alguns ficam encalhados, e com o passar do tempo os biscoitos ficam chochos. Só que da última vez que compramos, estavam tão fresquinhos que alguns pacotes foram devorados em poucos minutos, infelizmente.
Mas, isso é o de menos, pois há uma reclamação que, penso eu, é muito rude – a que envolve o comportamento do brasileiro.
Olha, veja bem, sair lá do raio que o parta para assistir a um evento que foi pensado e realizado para tungar os cofres públicos do país-sede, e ainda querer “ditar” regra para o seu povo é muito chato. Sandra Annemberg diria: “que deselegante”! O problema pode ser nosso, mas o comportamento também. Se está incomodado, “véio”, go home!
Houve quem se ofendesse com o tamanho das roupas de praia e o hábito de andar com elas pelas ruas. Alguém sai daqui para reclamar com as americanas que elas saem de casa sem a bunda?
Rafael Nadal, quando enfrentou Thomaz Belluci nas quartas de final do tênis individual, chegou a assanhar uma reclamação com o juiz sobre a torcida. Eu falei na hora: - Xiii! Ele “está louco de raiva”. Logo Nadal, com quem a torcida é tão gentil. Mas, depois ficou tudo bem e a galera torceu muito por ele.
E então veio o francês Renaud Lavillenie, o “ás no” salto com vara, dizer que nunca viu um povo tão mal educado. Ora, não é preciso ir à França para saber que os garçons franceses são escrotos com os turistas, que ainda são obrigados a pagar uma gorda gorjeta. A fama é mundial, e não está ligada a um comportamento de lordes, não é mesmo?
Daí dá para ver que, no mínimo, é o roto falando do esfarrapado.

E será que ele não viu sua compatriota, Aurelie Muller, ser desclassificada da prova de Maratona Aquática, no mesmo dia em que ele disputou sua prova?

Ela impediu que a italiana Rachele Bruni tocasse o ponto que determinava o fim do percurso para ficar com a medalha de prata. Que comportamento! Ainda bem que ela “perdeu, playboy!”
Como pode um francês, cujos compatriotas pretendem mostrar ao mundo a “importância do multiculturalismo”, querer se voltar contra aqueles que, em sua casa (frise-se), portam-se de um jeito ou de outro? De um jeito que não lhe agrada?
Todo músico que vem ao Brasil fala muito bem da “energia” do público. Madonna gostou tanto que usou camisa do Flamengo e chamou a galera de “bunda suja”.
É um povo alegre, festivo, apesar de tudo. Qualquer juntamento nesse país acaba em festa. É da nossa cultura,  somos assim: esnobes ou favelados, todos entramos “na dança” quando vamos a um evento. E os estrangeiros deveriam saber que as Olimpíadas são importantes para muitos brasileiros.

   Eu sou daqueles que não gostariam que esse evento acontecesse no Brasil agora, porque tenho a exata noção de que a finalidade de seus idealizadores era enriquecer a si próprios e a seus parceiros, e dar dinheiro e emprego para seus bajuladores e propagandistas - vide o Fernando Meirelles. Contudo, ainda que vá custar caro para nosso povo, já foi feito e não adianta mais reclamar. Aos desconsolados, perguntem à Marta Suplicy o que fazer nessas horas.
Veja bem. Como cada povo possui as suas características - já dizia uma professora da graduação que “oS organismo é diferente”(sic) -, quem é que vai dizer e comprovar que o comportamento xis ou ipsilon é o correto?

    E é correto para quem? Em que província, estado, país ou continente? Vai ensinar ao outro como ele deve torcer? Teve palavrão? Fizeram cuecão nele enquanto corria?
Daqui a pouco vão chegar no país e dizer: Senta! Rola! Ria! Chore! Ah! Vá...
É por isso que vos digo, caros estrangeiros, mal educado é ir a um lugar sabendo (ou pensando) que não vai ser agradável, e depois ficar reclamando.
Mal educado é estatizar os bens da Igreja Católica e criar uma religião do Estado, ser rude e perseguir o catolicismo, atingindo a fieis no mundo inteiro, enquanto se põe de quatro para os islâmicos, combatendo-os com flores, com desfiles da nata da socialdemocracia de braços dados e com pianistas cantando Imagine.
Mal educado é se classificar para a Copa do Mundo de futebol com um gol de voleio.
Mal educado é tratar o outro com arrogância, é não ser gentil e negar uma informação ao estrangeiro que não fala francês.
Mal educado é não saber perder, é colocar a culpa numa religião africana praticada no país dos outros, é não ter fair play...
Por fim, ultrapassa a falta de educação e a arrogância querer mostrar ao anfitrião como ele deve se portar, ou, pior, dizer que o seu comportamento, seu jeito de ser é reprovável.
Agora eu digo: Ah! Vá lavar o pescoço.


Fernando César Borges Peixoto
Advogado, especialista em Direito Público pela Faculdade de Direito de Vila Velha-ES e em Direito Civil e Processual Civil pela Faculdade Cândido Mendes de Vitória-ES.
Também é niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, saudosista.