segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Abilolado


Se não quiser mais nada,
     Desocupe a moita
Mas não seja afoita,
     Não saia a galope
Finja, e se importe
Deixe ao menos uma marca

Pode roçar sua pele na minha
     Pra eu recordar à noitinha
E pensar que desperdiçamos algo valioso
Isso é insano? Coisa de mentiroso?

Posso fingir que não foi importante
Desconstruir, num instante,
As memórias do que fomos
     e idear o que somos,
     ou teríamos sido

Eu não ligo,
Só quero uma lembrança
Faça isso!
     Nem que seja por vingança.



Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Milf *


Milf doida!
Caralha de asa, uma brasa,
           mas ’inda assim doce.
Milf doida!
Imenso vazio,
           esperando o elogio que fosse

Assanhadiça,
           cheia de fases, fica no quase,
           cria problemas, poemas, sistemas...
Intensa, sensível, irritadiça
Escancara segredos.
Incita a guerra,
           lança por terra
Condena ao degredo,
           não poupa fissura, rechaça a amargura.
Sem freios, sem rumo, sem prumo nem esteios.

Ah! Milf doida!
Abaixe a bola,
           aguente na boia,
Não faça barulho,
           sufoque o orgulho,
           descanse a alma doída.


* Mother I’d like to fuck


Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.




segunda-feira, 11 de setembro de 2017

terça-feira, 29 de agosto de 2017

João Bosco, dissonantes e cachaça


Dez horas da manhã, um grupo de adolescentes tocava violão e cantava na esquina em que os mais velhos se reuniam à noite, para jogar conversa fora. No meio de semana, férias escolares, verão – já, já o sol estaria batendo a pino sobre a mufa, mas não se importavam.
Viviam a renovação da música na década de oitenta, e só conheciam os gemidos anasalados de Chico e os gritinhos histéricos de Caetano porque os professores impunham-lhes goela abaixo, entre loas imerecidas aos ditos “expoentes da música popular brasileira”. E é bom que se diga que gerações acabaram ouvindo esses músicos em razão da massificação imposta por formadores de opinião.
Rock nacional na veia, iam de Barão, Paralamas, Lobão e Lulu Santos. Todo o repertório mal tocado – e mal cantado também –, mas era divertido. Ao menos, não perturbavam a vizinhança furtando frutas, invadindo casas para “roubar” um banho de piscina, incitando cães a latirem, ou fumando maconha, para falarem bobagens e reclamarem de fome. (“Eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas estou aqui maltratando as cordas do Di Giorgio”.)
Surge uma figura do nada, cambaleante, com cheiro de álcool, e pede o violão. Não tinha trinta anos. Olhares enviesados, sabe-se lá por que, entregam-lhe o instrumento, que cola no ouvido e bate nas cordas: “dom-dom-dom, din-din-din, pléin-pléin-pléin...”. Aperta daqui, afrouxa de lá e devolve o violão.
- Confere aí!
O menino, puto, dedilha o pinho: “lá-lá-lá-lá, ré-ré-ré-ré, sol-sol-sol-sol...”. Olha espantado, e solta um:
- Tá afinadinho.
O mamulengo sorri e pergunta:
- Posso tocar uma música?
Os moleques, agora curiosos, dizem em uníssono que sim; e ele manda um monte de dissonantes, faz uma papagaiada danada, e canta Papel Marchê, de João Bosco. Um deles estudava música, e ficou embasbacado com a destreza do bebum, que parou no meio da execução, e perguntou se gostaram. Todos acenaram que sim, e ele pediu para lhe pagarem uma cerveja.
“Não!”, disseram os jovens que normalmente não tinham dinheiro nem para um picolé.
- E uma cachaça? Mas caprichada...
Um dos meninos coçou o bolso e tirou uma nota que dava para pagar umas duas doses caprichadas da cachaça mais vagabunda, e outro, mais velho, foi lá buscar. Na volta, disse:
- Moço, o Carlinhos mandou num copo de plástico, depois de fazer um interrogatório danado.
Deu uma talagada e voltou a tocar: João Gilberto, Tom Jobim, João Bosco; improvisou, e tocou (sabe lá Deus se bem ou mal) música clássica... O tempo avançava, e o primeiro copo se foi. Veio o segundo e, junto, mais músicas – um violão muito bem tocado para a realidade daqueles neófitos.
No meio do segundo copo, já era quase meio dia – o sol estava rachando, e o bebum resolveu ir embora. Matou tudo, e se despediu dizendo que tocava num barzinho, num bairro próximo.
Saiu mais cambaleante que quando chegara.
Na sexta, os meninos se reuniram e foram vê-lo tocar. Talvez estivesse sóbrio, e aí seria um espetáculo. Ao chegarem, viram que os músicos se arrumavam, mas nada dele chegar; e resolveram perguntar ao cantor, que respondeu entredentes que “aquele cachaceiro irresponsável nunca mais iria tocar com ele”.
Acabou a graça, mas os meninos tiveram uma lição sobre a desgraça do alcoolismo: viram um talento desperdiçado – mais um dentre tantos, em nosso país de dimensões continentais.


Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sem água, por favor!


João prometeu a si mesmo que comeria pela última vez aquela gororoba sem sabor, sem “tumpero” na casa de Onofre, o simpaticíssimo amigo de longa data. O caldo do feijão com gosto de água pura, sem sal... Argh!
Ele já havia experimentado algo tão insípido, num dos dias mais sofridos de sua vida (e na sua casa!), quando um boçal que o visitava, querendo se exibir, insistiu para João e sua esposa testarem seus dotes culinários. Dizia o “Jacquin da periferia” que a opinião dos dois, amantes da boa comida muito antes da “onda gourmetizadora” invadir os lares brasileiros, era deveras importante.
Para desgosto do casal, a comida era ruim de doer. Intragável! Havia um inesquecível purê de batatas feito com água, acompanhado de uma bisteca que depois de cozida tomou um banho de água quente para formar o “caldo”. Aquela incursão na cozinha dos pesadelos, que já era um desastre total, conseguiu ter um final ainda pior: o ambiente azedou de vez quando o falso cozinheiro não recebeu os esperados elogios, e danou a soltar piadinhas. Mas o saldo foi positivo: João não teve mais que se submeter àquele tipo de saia justa, já que o idiota desembarcou de mala e cuia de sua vida, para nunca mais dar o ar da (des)graça.
A situação com Onofre era diferente, pois a responsável pela má cocção dos alimentos nobres e exóticos que ele gostava de servir aos amigos, era a cozinheira. E como João estava certo de que o anfitrião preguiçoso tinha conhecimento da falta de dotes culinários da empregada, resolver o contratempo seria simples. Bastaria sugerir a mudança de endereço dos próximos rega-bofes, marcando o almoço das quintas-feiras no Bar do Wilson, que não era um asno, mas um ás no fogão. Wilson os receberia com prazer, e iria prontamente para a cozinha, tirar de letra os desafios culinários.


Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Onde é que eu estava o tempo todo? Ocupado demais (II)


Dias atrás, viajei para uma cidade do interior – crescidinha, mas do interior. Interior onde se diz que as pessoas são mais amigáveis e generosas – e sempre foi assim mesmo.
Ia buscar as crianças, que passaram a única semana de férias numa roça; e a poucos quilômetros do perímetro urbano, o carro esquentou. Com hora para chegar, parei repetidas vezes, esperando que esfriasse para, em seguida, continuar. Até que não deu mais, e liguei pedindo ajuda a minha cunhada, que trouxe uns dez litros de água para resolver o problema. Mesmo assim, continuei andando e parando para completar a água do radiador, pois havia um vazamento. Foi assim até chegar a uma oficina de bom porte.
Era um sábado, pouco mais das dez e meia da manhã, e porque a oficina fecharia às onze horas, sequer quiseram olhar o carro. De nada adiantou explicar que vivo a oitenta quilômetros de distância; que fui buscar meus filhos para cumprir compromissos no domingo, na Igreja; e que as aulas voltariam na segunda-feira. O carro ficou lá, enguiçado, sendo que nem mesmo o proprietário da oficina quis dar uma olhada. Pior: um funcionário ainda soltou umas piadinhas.
Falei com minha esposa sobre tamanha falta de sensibilidade, e nos perguntamos: “como e quando o mundo ficou assim?”
Nós não vimos: ela estava ocupada demais com trabalho, administração da casa e maternidade, e eu trabalhava e estudava muito, havendo dias em que nem via meus filhos acordados. Mas aconteceu de o mundo dar essa volta de cento e oitenta graus e andar para trás, num retrocesso civilizacional monumental – irônica, mas propositalmente –, promovido pelos que se dizem “progressistas”.
O que sentimos é que acabou a consideração, a comiseração; e restaram o descaso e os interesses. Só se ajuda quem possui moeda de troca; e a possibilidade de dar algo em troca deve ser atual. Também não importa o que se fez pelo outro no passado: quem não possui algo a dar na atualidade é carta fora do baralho, da vida e do ciclo de amizades. Aos poucos, fomos perdendo todo o legado moral da cristandade, um dos pilares da (nossa) Civilização Ocidental.
Segundo Christopher Dawson, o Ocidente experimentou idas e vindas no curso de sua formação; e num dado momento da Idade Média, a sociedade já cristianizada, após tantos sofrimentos e ataques, retrocedeu e foi tomada por um caráter belicista, por uma rudeza tamanha a ponto de o comportamento de cristãos e bárbaros possuir diferenças mínimas. Mas, de forma fortuita, isso facilitou a conversão dos últimos, no decurso do longo caminho de interpenetração cultural e religiosa. Séculos depois, o amadurecimento do convívio civilizado resultou na criação das comunas, onde as pessoas decidiram, mediante juramento, conviver de forma pacífica, solidária, e em torno das mesmas lideranças (Criação do Ocidente: a Religião e a Civilização Ocidental. SP: É Realizações, 2016, págs. 122, 204-205).
Como essa postura virtuosa, sem interesses velados, surgiu após muitas adversidades e aglutinações, o que nos resta é torcer pela alternância entre a barbárie e a restauração da sociedade, para que seja um movimento cíclico e, então, surja um remédio que neutralize esse comportamento crescente de negação aos valores da nossa própria cultura.
Enquanto não acontece, não podemos descurar. E é por isso que, a cada dia sigo mais convicto o que disse São Tomás de Aquino, como sempre reforça Olavo de Carvalho: “Ubi vera amicitia est, ibi idem velle, et idem nolle, tanto dulcius, quanto sincerius (Onde está a verdadeira amizade, aí está o mesmo querer e o mesmo não querer, tanto mais agradável, quanto mais sincero). Quer dizer, devemos ter ao nosso lado os que dividem os mesmos objetivos e gostos, ao tempo em que repelem as mesmas coisas, pois é muito provável que quem esteja fora desses parâmetros, na melhor das hipóteses, seja indiferente; já que, na pior delas, assim que puder, se não nos virar as costas, ele irá nos prejudicar.


Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.



quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Onde é que eu estava o tempo todo? Ocupado demais (I)


Na minha juventude, o período escolar se dividia em primeiro e segundo graus, e eu terminei muito cedo, pois “pulei um ano” em razão de problemas particulares que acabaram me beneficiando. Não sabia o que fazer da vida, mas, como um grande amigo foi aprovado por uma faculdade, lá fui eu tentar ser admitido por outra, que aplicava provas após todas as demais entregarem o resultado, a fim de pegar a “rapa do tacho”. Eu tinha que fazer, por que, senão, “o que é que eu iria dizer lá em casa?”
Optei por Licenciatura em Matemática, por ser uma disciplina da qual sempre gostei, mas abandonei o curso e fui fazer várias coisas, como: estudar música, tocar na noite, trabalhar em trailer, montar um pequeno negócio... Nada com muita responsabilidade.
Quando finalmente decidi abraçar uma profissão mais estruturada, fui estudar Direito, de olho no leque de carreiras que se abrem no serviço público, onde poderia me escorar, já que nesse país, para desgraça do empreendedor, é um excelente negócio trabalhar para o Estado. Para advogar – descobri mais tarde – o bom mesmo é ser “vaselina”, escorregadio, e não misturar as coisas da moral com as da profissão.
Quase no fim do curso, conheci a minha esposa e mudei. Saí do Rio de Janeiro para morar no Espírito Santo, com uma excelente proposta de emprego para um estagiário. Pela primeira vez na vida experimentava mudar de residência. E que mudança! Saía da casa de um bairro simples, em que meus pais já moravam antes de eu nascer, para viver num bairro praticamente sem casas, próximo à praia, a quinhentos quilômetros de distância... E casado.
Na faculdade, foi difícil a adaptação, pois nas turmas já havia grupos formados, e eu ainda assistia a aulas em várias delas. Por pura sorte, participei de uma formatura organizadíssima, substituindo um dos colegas, que desistiu na última hora.
Certamente, toda essa mudança custaria alguma coisa, e foi um ano a mais de curso, para adaptação da grade curricular. Só que, na verdade, levei uma beiça da faculdade, que me cobrou por disciplinas que cursei, mas depois foram dispensadas, tanto que não constam do meu histórico escolar. Quer saber o resultado da ação reparatória que ajuizei? Basta dizer que o ministro do STF que julgou em última instância é dono de faculdade, e, sim, amiguinho, ele jamais criaria jurisprudência para tomar prejuízo no negócio posteriormente... Ah, a justiça!
Acabei o curso em 2002 e, concomitantemente, ingressei na Escola da Magistratura e na primeira pós-graduação. Depois, fiz cursos de reciclagem e preparatórios para concursos públicos – queria ser juiz ou defensor público, nunca membro do Ministério Público. Após a segunda pós-graduação, batalhei por um mestrado cuja mensalidade eu poderia pagar, mas a vaga me foi negada por eu não ser esquerdista o suficiente (isso ficou bem claro pra mim na entrevista).
Em seguida, passei a me interessar por política – não partidária –, e uma venda foi retirada dos meus olhos, aquela que cega os idiotas úteis que acreditam que o comunismo, o socialismo ou qualquer porcaria que defenda um regime coletivista, realmente se preocupa com o ser humano. (Para piorar, posteriormente, descobri que há individualistas que batem pauta com esses coletivistas.) Acredito que foi pura sorte minha, pois estaria envergonhado se tivesse “adaptado” meu projeto de dissertação, como queriam as simpáticas senhorinhas que avaliaram os três candidatos à vaga única do mestrado.
O comportamento de certa forma intransigente em alguns assuntos, o qual norteia minha vida, rende críticas de gente mais esperta que eu, de quem, para meu próprio bem, diz que eu deveria “jogar o jogo”. Não consigo. É da minha natureza, e me sinto velho demais para certas mudanças, mormente de cunho moral.
Passei anos estudando muito (estudo até hoje, como requer minha profissão), e não pude perceber as mudanças havidas (para pior) na sociedade, no comportamento da população, a partir da ascensão do lulopetismo no Brasil, embora seja importante não esquecer que o pontapé inicial foi dado por FHC. E que pontapé!
Quando comecei a ler livros sobre o conservadorismo; a me inteirar do que Marx e seus asseclas realmente escreveram e, principalmente, dos crimes de Stálin, Mao Zedong, Pol Pot, dos irmãos Castro e de toda a corja responsável por mais de 100 milhões de mortes em tempos de paz; e quando soube de histórias como holodomor, fiquei muito irritado por ter sido um idiota que usava broches de Che Guevara e desenhava a foice e o martelo nos cadernos do colégio, na juventude.
Descobri que havia sido vítima de doutrinação por formadores de consenso, mas muita coisa ainda estava por vir. Pelas redes sociais fui tendo acesso a um mundo desconhecido, uma espécie de mundo paralelo, no qual havia muitas pessoas ruins influenciando inúmeros idiotas (úteis) que repetiam jargões, palavras de ordem, agindo como bodes cegos ao espocarem fogos de artifício. Doía saber que tinha sido um dos bodes.
A cada dia leio e ouço coisas que me deixam envergonhado de dividir a categoria de ser humano com quem, p.ex., defende que drogados tenham o direito de se drogar mais – o que, na prática, leva-os a cometerem crimes contra inocentes, quando acaba o dinheiro para mais drogas –; com quem concorda que crianças (mesmo depois de nascidas) sejam mortas por vontade da “mãe-hospedeira”; com quem aprova a venda de crianças por pais que não tenham condições ou não queiram sustentar os filhos; com quem luta para que suas perversões sexuais sejam ensinadas a crianças de 5, 6 anos de idade; com quem exige o patrocínio estatal de cirurgias de mudança de sexo e também o fornecimento de hormônios, tratamento etc., e entende que crianças podem decidir amputar partes do corpo para mudar o sexo; com quem diz que é uma cabra, um reptiliano ou outra coisa, e quer impor que isso seja aceito com naturalidade; com quem trata melhor animais e plantas que outros seres humanos; com quem silencia diante da ditadura do politicamente correto, para não ofender aos “sensíveis”...
Diante de casos como esses, há quem repita as palavras de Silvio Brito: “Pare o mundo, que eu quero descer!”. Mas isso está errado. Os lunáticos é que devem descer.
E você? Não está sabendo, não ouviu falar disso? Então, pare de assistir à programação bizarra da TV, faça algo decente por sua vida e pela sociedade, e nunca (NUNCA!) acredite naqueles que se dizem humanistas e “lutam por um mundo melhor”. Muitos deles podem até amar a “humanidade”, um ente abstrato, mas odeiam o indivíduo que está próximo. São pessoas perniciosas que, mesmo sem saber, lutam por um projeto de poder que visa apenas a escravizar pessoas, tirando seu sangue para dar boa vida a sanguessugas instaladas no poder e seus apaniguados.
(Continua... e é melhor)

Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

Raimundo



Raimundo Cavalcante tinha terras na Paraíba, mas a seca constante o fez desistir e partir para arranjar o que fazer no sul. Preferia trabalhar, e por isso dispensou viver pendurado no governo. Pretendia continuar vivendo no campo, para lidar com o que tinha experiência; e em pouco tempo já estava bem instalado numa pequena fazenda, onde tocava o pomar e a horta, e cuidava de porcos, carneiros, patos, galinhas e marrecos. Aquele pedaço de terra era um sonho...
Como não estava muito afastado da Cidade, podia frequentar a Igreja Matriz, Católica, Apostólica e Romana, àquela altura infestada de seguidores da teologia da libertação – excrescência marxista incrustada na Igreja de Cristo –, que a empesteavam.
Um belo dia, um membro da comunidade eclesial de base puxou assunto, e perguntou a Raimundo o que ele achava do “golpe”. Raimundo, homem muito atarefado e ensimesmado, desconhecia os jargões da esquerda brasileira, e perguntou: – Quediabéisso?
Então, ouviu:
- O golpe que o Temer deu na presidenta Dilma; representante da elite que não se conforma porque Lula e Dilma tiraram milhões da pobreza, e odeia ver os pobres comprando coisas e frequentando os mesmos lugares que os ricos.
Raimundo respondeu:
- I u hômi num fazia propaganda e discussu juntu cua Dirma? Eis num tava juntu? Eu vi, das duas vez, qui eis tava juntu.
- Não senhor! – respondeu o falso católico. - Temer tinha que estar lá, senão ela não ganhava. Mas ele se juntou com os tucanos e deu um golpe na mãe Dilma. O pior é que ainda querem prender o papai Lula. É uma gente muito ruim, que não quer largar o poder.
- Óia, seu moçu – disse Raimundo –, eu num sô letradu, i tive qui saí de minha terrinha pruque num tive ajuda di ninguém. Ném quiria. Larguei tudu pra lá i vim trabaiá nu su. Mais meu patrão, que é rico, i muitcho bão, tamém tem dificurdade pra tocá a fazenda, inquantu uns pôcu hômi indinherado, qui são amigu “dus hômi” da política, tão nadanu nu dinhêru emprestadu dus bancu du governu. Issu é justo? Eis déru geladêra i tevelisão prus pobri, i mansão, iati i dinheiru grossu prus ricu amigu, pra eis tamém, i prus cumpádi deis. E nissu aí, tá eis tudu mitidu: Lula, Dirma, Têmi... Jesus num qué issu não, viu? Num fali issu aqui drentu da Igreja, respeiti u sufrimentu de Cristo.
O militante foi embora, não sem antes dizer que Raimundo precisava estudar e que era um cão adestrado do patrão burguês explorador.
Raimundo, que não estava nem aí, voltou para casa, reconfortado pela Palavra lida na Santa Missa. Agora, precisava descansar no domingo do Senhor, porque tinha uma semana pela frente, em que precisava estar bem disposto para trabalhar pesado, como sempre fez e nunca reclamou.
Foi lindo ver aquela surra moral e o choque de realidade dados por um homem simples, mas muito sábio, num militante marxista infiltrado na Igreja. Eu estava lá, era o banco ao lado do lugar onde havia sido feita a malfadada abordagem.



Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

Vinho no livro


Acho ótima a combinação da leitura de um livro e um bom vinho mais finger foods – não esqueço o guardanapo, é lógico. Há quem prefira o café, e eu concordo, dependendo da ocasião. Pode ser um excelente “negócio”, no horário apropriado; e assim me vejo, às vezes, em Paris, mal atendido por um estúpido e carrancudo garçom, que não se esforça para agradar porque a gorjeta é garantida. Em minhas mãos, um romance de Fiódor Dostoiévski – pode ser de Jorge Amado –, ou obras de Régine Pernoud ou Louis Lavelle.
Não, não sei se é bem isso o que quero. Tenho dúvidas se devo conhecer a França agora, sob a irreversível invasão muçulmana, e os incansáveis atos terroristas. Quero paz, e não sentir medo de ácidos, facas ou explosões. Tenho algo próximo a isso no Rio de Janeiro, e lá a hospedagem é de graça.
Voltando ao vinho, ele já deixou muitas marcas pelas páginas de meus livros. Já dei um banho muito bem dado, com uma taça generosamente abastecida, em António Gramsci – e foi bem no meio dos cornos. Pena foi estragar o vinho; se pudesse, teria usado ali um “cœur de bœuf” (Hehehe).
Inadvertidamente, sempre deixo a marca de uma gotinha nos livros que leio acompanhado da bebida que Jesus também degustava, junto aos amigos. Não vejo problemas nisso, já que não atrapalha uma nova leitura.
Mas eu só pareço legal, pois, apesar de adquirir livros em sebos e em grupos específicos, não gostaria de ler algum com mancha de vinho deixada por outra pessoa. Sentiria ciúmes ou inveja daquela relação íntima anterior a minha, declarada ali, sem pudores.
Sim, sou egoísta, e só aceitaria a marca se tivesse sido deixada por Jesus Cristo, mas eu sei que aí seria pedir demais.



Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Fim de papo


“Parabéns, hoje faz 6 meses que não fazemos sexo entre nós”, dizia a mensagem enviada pelo WhatsApp. 7h56min no relógio, era dia 12 de dezembro.
Ele tinha razão, fazia 6 meses que ela, incompreensível e desnecessariamente – já que não faziam sexo há muito tempo –, vestira aquele corpete caríssimo e a calcinha de fio “mental”, de tão inexistente, para comemorar (por quê?) o dia dos namorados.
Mirtes e Roberto tinham a exata noção de que não havia mais nada a acrescentar um ao outro. A relação se mantinha apenas “pro forma”, e nem sequer sabiam o porquê de ainda dividirem o mesmo teto. Talvez fosse a crise...
Cada um, a seu modo, ia procurando estabelecer um jeito de caçar o próprio rumo, mas isso não implicava necessariamente a busca de novos relacionamentos. Pelo menos, nada era feito às escâncaras, pois havia o respeito, ainda que seguro por uma linha muito tênue.
Não puderam fazer muita coisa para evitar o fim. Simplesmente chegara o momento em que tudo se resumia a isso: ela achava que ele entregava muito pouco, e ele achava que ela não entregava nada, que ela exigia dele coisas que não tinha condições de bancar. Afinal de contas, quem não dá nada, não pode exigir coisa alguma.
Em verdade, estavam tão anestesiados que nem discutiam mais; apenas se limitavam a dar razão ao parceiro. Resignados, haviam percebido que não passavam de um espectro, um na vida do outro. Era como se vivessem em dimensões diferentes, imperceptíveis, sem interferir, sem somar; o vazio...

***
À noite, não houve um ai sequer sobre a mensagem tola enviada no início do dia. Era uma quinta-feira, dia morto para ambos. Não havia o drink com amigos, ou o cinema do grupo.
Na hora do jantar, ele abriu um vinho e disse, tranquilamente, que no fim de semana estaria saindo de sua vida para nunca mais voltar. Foi aí que ela percebeu que a mensagem tinha sido uma espécie de “foda-se” menos agressivo.
Ele se alongou, sem precisar, dizendo que as “crianças” já estavam encaminhadas na vida, e a presença dos pais em conjunto não se fazia tão necessária.
Não houve choro, nem vela acesa. Nada se discutiu ou perguntou. Ela disse ok, foi econômica, como era natural entre eles nesses últimos tempos.
Ele escovou os dentes e se acomodou no chão da sala, onde gostava de dormir. Ela ficou feliz pelos dois. Foi para a cama ler um capítulo de um livro que tratava de jogos eróticos, e teve um sonho molhado com ele. Com ele não, com aquele “ele” que ela havia conhecido há 25 anos.


Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

A Incontinência


Aquela incontinência urinária o incomodava há meses, e pouco depois de adentrar e se instalar no restaurante, sentiu vontade de ir ao banheiro. Levantou-se da cadeira e seguiu os passos já conhecidos, naquele jeito de quem se espreme para não fazer ali mesmo, nas calças.
Bastou entrar e se trancar para ouvir tiros-gritos-tiros.
Ficou em estado de choque. Mijou igual um chafariz, molhando tudo ao redor, inclusive o sapato, e quando voltou a si, Penélope esmurrava a porta, gritando seu nome, histérica – quase como a moça do “Igu néra guei?” –, e perguntando se ele estava bem.
Saiu sem dar a descarga, e ela, sem tomar fôlego, foi logo o colocando a par dos acontecimentos, metralhando palavras desconexas.
Ao final, ele compreendeu que dois encapuzados haviam invadido o recinto e disparado vários tiros, a boa distância, no careca que estava sentado ao seu lado.
- Podiam ter acertado você, Tavinho. - E chorava...
Foram caminhando, e Tavinho já estava com tudo sob controle, apesar de incomodado com aquele sangue que saía do corpo do sujeito inerte, ainda descoberto, olhos esbugalhados e rosto deformado, esburacado pelas balas que o atingiram.
- É, podiam ter me acertado - respondeu. - E eu reclamando de meu problema. Vejo agora que isso só pode ter sido coisa de Deus: uma doença enviada por Deus... - falou, pausadamente, para encerrar, enfático:
- Não havia escolha. Era incontinência ou morte!


Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Três atos de escrotidão

1º Ato.
Feito o pregão, entro na sala de audiências com o preposto do banco, após dar passagem ao colega e a seu cliente, um idoso. O conciliador ainda se ajeitava na cadeira, quando me foi perguntado o valor da proposta.
- Não há proposta, Dr. - respondi ao advogado.
- O Dr. está de brincadeira comigo? - disse ele - V. Sª me fez vir aqui à toa?
Retruquei:
- Dr., eu marquei algum encontro com V. Sª? Sou obrigado a fazer propostas? Cuide do seu trabalho, e eu cuido do meu.
Uma voz fina e assustada invade o ambiente:
- Drs., dia 30 de maio, às 14 horas, está bom?
Era o conciliador, marcando a audiência de instrução e dispersando o clima ruim.

2º Ato.
Precisando comprar um colchão, fui a um lugar onde havia duas lojas, uma de cada lado da avenida – uma chique, outra “plebeia”.
Na loja “não chique”, uma vendedora enjoadinha me atendeu, e ao pedir para orçar o modelo que gostei, ela indagou a forma de pagamento e o número do meu CPF. Eu a questionei, e ela disse que era para eu levar logo, porque não encontraria mais barato. Respondi que não faria isso, pois era a primeira loja em que entrei.
Com o orçamento, parti para a loja em frente, onde uma vendedora simpática, bonita e bem vestida me atendeu, deixando-me à vontade.
- Resolvi ver esse e aquele - eu disse, depois de passear pela loja.
- Vou fazer o orçamento para o senhor - respondeu - qual a forma de pagamento?
Nesse momento, a vendedora chata, da outra loja, chega e me encara, com um sorriso sarcástico. Vai direto falar (alto) com o gerente, mostrando que as lojas pertenciam ao mesmo proprietário. Faltou me chamar de otário.
Virei para a simpática vendedora e disse:
- Moça, não perca seu tempo. Eu agradeço a atenção, mas você perdeu a venda por causa daquela que entrou, meio que debochando de mim. Ela me atendeu na loja em frente e disse que eu não encontraria nada mais barato quando falei que ia procurar outros orçamentos. Então, veio aqui atrás de mim, para me afrontar. Boa tarde!
Elas que se acertassem por lá.

3º Ato.
Acabei de almoçar e voltei andando para o escritório. Cheguei ao hall do prédio e o elevador de serviço estava bloqueado por alguém que carregava um material. Apertei o botão do outro e aguardei.
Chegou um senhor e, logo em seguida, um rapaz, que já foi perguntando se não entraríamos no elevador parado. Em voz alta, questionou o motivo de estar parado, ao mesmo tempo em que retirava o objeto que segurava a porta, dizendo que precisava subir. Era uma “marra” dos diabos, e um alvoroço danado por pouco.
Pensei o porquê da figura “chegar chegando”, inconvenientemente, com tanta arrogância.
Ao ouvir aquele furdunço, veio o porteiro, esbaforido, dizer, para mim, que ia liberar o elevador. Eu respondi que não havia a menor necessidade, pois enquanto o apressadinho já estava instalado no elevador de serviço - “péin” - soou a campainha e a porta do social se abriu.
Eu entrei, o senhor veio atrás, e o porteiro teve que avisar ao zé ruela que o outro elevador havia chegado. Ele saiu de um, entrou no outro e não apertou o botão...
Saltou no mesmo andar que eu. Era cliente do dentista que atende ao lado de minha sala. Não, ele não era o dono do mundo, não era sequer proprietário ou inquilino de uma das salas do edifício.
*     *     *
Meus pais diziam que gente assim “tem o rei na barriga”. Já na minha juventude, eu chamava de escroto mesmo.
Deve haver várias explicações para comportamentos assim, mas, como não estou nem aí para isso, quero mais é que essas pessoas se phodam.
Elas deixam o convívio em sociedade mais estressante, e servem de exemplo para o aprendizado de uns e de tema das mais variadas discussões para outros. Bom mesmo é que causam regozijo àqueles que possuem senso de ridículo, e a certeza de que tiveram uma boa educação.



Fernando César Borges Peixoto


Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Egolatria

Fernando Peixoto

Ela insiste,
     quer que eu me esforce
     e me transforme no que jamais imaginei.
Finge não ouvir o que há tempos segredei.
Realiza expectativas nos meus passos,
     com a pretensão de guiá-los.
Resolve o porvir
     sem sequer conhecer a fragrância do perfume em meu corpo,
     misturado ao meu suor.

Que tempos tacanhos!
Pensamentos estranhos...
Mas não sou um ser virtual,
     tenho carne, sangue, osso e tutano.

Então, deleto meu perfil, e sigo
     à procura de algo mais humano.


Do alto da colina

Fernando Peixoto

Sozinho, desamparado,
miro o horizonte do alto da colina.
É um cenário muitas vezes já descrito...
Uma ave de rapina acaba de passar, lançando seu grito.
E daí? Não quero ler suas vísceras.
Eu já expus as minhas, e não fui correspondido.

Enquanto sofro, me calo;
Enquanto penso, meu falo
adormece e esquece que um dia viveu sem rumo.
Mas eis que quando entrei no prumo,
deu em nada.
Queimei a largada, servi a dose errada...

Por quem já foi, sem antes ter sido.



domingo, 19 de março de 2017

O avanço na liberação das drogas



A esquerda progressista, predominante no meio jurídico, criou uma teoria perfeita para eternizar os “espaços ocupados” no ordenamento jurídico, que impede a remoção daquelas normas aprovadas que seguem pautas da agenda esquerdista.
Trata-se da “vedação ao retrocesso”, que proíbe suprimir, reduzir ou abolir, mesmo que de forma parcial, o núcleo essencial de direitos fundamentais estabelecidos pela via legislativa. Assim, uma vez reconhecidos, esses direitos devem ser efetivados e preservados, e qualquer medida estatal que avance sobre esse núcleo deve ser considerada inconstitucional. São exemplos as cláusulas pétreas estabelecidas no artigo 60, § 4º, da CF/1988 [1].
O mecanismo, que tratava de questões constitucionais, já é discutido e utilizado em várias disciplinas, como no Direito Ambiental, Direito Trabalhista e Direito de Família, p.ex. É o “progresso”. E quem decide a matéria, ao fim e ao cabo, é o STF, que vem frequentemente praticando o ativismo judicial para pôr em prática pautas… progressistas… criadas pela esquerda.
A palavra retrocesso soa melíflua em bocas progressistas, mas, afinal de contas, progresso e retrocesso são progresso e retrocesso para quem?
Merval Pereira anunciou que o Presidente Michel Temer vai procurar o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso para estruturar a “descriminalização das drogas” no país, tendo em vista que tal medida enfraqueceria “o poder dos traficantes” [2].
Há algumas considerações a serem feitas:
a) Cigarros, bebidas e até remédios são drogas liberadas que continuam sendo falsificadas e contrabandeadas;
b) O Estado irá regulamentar a produção e a venda de drogas, mas certamente haverá quem desenvolva, produza e trafique drogas fora da regulamentação estatal, com graus mais elevados da substância ativa;
c) Os traficantes possuem o know-how de distribuição e venda, e eles não vão perder esse nicho de forma mansa e pacífica [mais sobre esse assunto eu tratei no ensaio “Carta a um liberal (neo-)ateu que não irei enviar”] [3];
d) A violência nunca vai deixar de existir, e criminosos, além de dominarem o tráfico, vão continuar praticando crimes, como roubos, latrocínios e sequestros. São facções criminosas que continuarão com suas atividades, e a cada vez que o Estado ceder, mostrando-se fraco, os marginais vão exigir mais, através de chantagens;
e) Viciados se multiplicarão, e muitos não terão condições de sustentar o próprio vício, o que trará problemas para a sociedade, sem considerar o colapso causado na saúde pública já colapsada;
f) A questão da superlotação dos presídios é um falso motivo, porque não há usuários de drogas encarcerados nesses lugares, mas traficantes, que não são apenas vendedores de drogas, mas criminosos que aterrorizam a sociedade. Ou seja, além de traficar, eles matam, roubam e sequestram;
g) Essa é a realização de um plano da esquerda mundial, que enxerga numa nação drogada o lugar ideal para estabelecer suas regras sem questionamentos e se perpetuar no poder. Três observações devem ser feitas aqui: (i) o livro “Red Cocaine”, de Joseph D. Douglass Jr.; (ii) o “soma”, a droga “perfeita” que facilitava a vida do establishment em “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley; e (iii) a “Guerra do ópio”;
h) As facções criminosas brasileiras são parceiras das FARCs, que por sua vez são parceiras de vários partidos de esquerda da América Latina no Foro de São Paulo [4]. Ou seja, é possível que muitos políticos tenham relações estreitas com traficantes, e isso seja uma espécie de “ação entre amigos” [5].
Qual será o próximo passo?
O direito de usar e de traficar drogas hoje consideradas ilícitas será envolvido pelo núcleo de direitos fundamentais e, assim, proibida a sua supressão, redução ou abolição?
Esteja alerta!
Notas
[1] Artigo 60, §4º, da CF/1988:
4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I – a forma federativa de Estado;
II – o voto direto, secreto, universal e periódico;
III – a separação dos Poderes;
IV – os direitos e garantias individuais.
[2] PEREIRA, Merval. Guerra às drogas não deu certo. O Globo, 17/01/2017. Disponível em http://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/guerra-drogas-nao-deu-certo.html. Acesso em 17/01/2017;
[3] PEIXOTO, Fernando César Borges. Carta a um liberal (neo-)ateu que não irei enviar. Impressões e Confissões Expressas, 19/11/2016. Disponível em http://fernandopeixoto-es.blogspot.com.br/2016/11/carta-um-liberal-neo-ateu-que-nao-irei_14.html. Acesso em 18/01/2017;
[4] BRASIL, Felipe Moura. Conheça o Foro de São Paulo, o maior inimigo do Brasil. Veja.com, 24/03/2014. Disponível em http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/conheca-o-foro-de-sao-paulo-o-maior-inimigo-do-brasil/. Acesso em 18/01/2017;
[5] CARVALHO, Olavo de. As esquerdas e o crime organizado. Apêndice de “A Nova Era e a Revolução Cultural…”. Disponível em http://www.olavodecarvalho.org/livros/neesquerdas.htm. Acesso em 17/01/2017.


Fernando César Borges Peixoto. Advogado, pós-graduado em Direito Público e em Direito Civil e Processual Civil, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, saudosista.

P.S.: Ensaio originalmente publicado no portal Mídia Inversa (http://midiainversa.com/o-avanco-na-liberacao-das-drogas/).