Na minha juventude, o período escolar se
dividia em primeiro e segundo graus, e eu terminei muito cedo, pois “pulei um
ano” em razão de problemas particulares que acabaram me beneficiando. Não sabia
o que fazer da vida, mas, como um grande amigo foi aprovado por uma faculdade,
lá fui eu tentar ser admitido por outra, que aplicava provas após todas as demais
entregarem o resultado, a fim de pegar a “rapa do tacho”. Eu tinha que fazer, por
que, senão, “o que é que eu iria dizer lá em casa?”
Optei por Licenciatura em Matemática, por
ser uma disciplina da qual sempre gostei, mas abandonei
o curso e fui fazer várias coisas, como: estudar música, tocar na noite,
trabalhar em trailer, montar um pequeno negócio... Nada com muita
responsabilidade.
Quando finalmente decidi abraçar uma
profissão mais estruturada, fui estudar Direito, de olho no leque de carreiras
que se abrem no serviço público, onde poderia me escorar, já que nesse país,
para desgraça do empreendedor, é um excelente negócio trabalhar para o Estado.
Para advogar – descobri mais tarde – o bom mesmo é ser “vaselina”, escorregadio,
e não misturar as coisas da moral com as da profissão.
Quase no fim do curso, conheci a minha
esposa e mudei. Saí do Rio de Janeiro para morar no Espírito Santo, com uma
excelente proposta de emprego para um estagiário. Pela primeira vez na vida experimentava
mudar de residência. E que mudança! Saía da casa de um bairro simples, em que
meus pais já moravam antes de eu nascer, para viver num bairro praticamente sem
casas, próximo à praia, a quinhentos quilômetros de distância... E casado.
Na faculdade, foi difícil a adaptação,
pois nas turmas já havia grupos formados, e eu ainda assistia a aulas em várias
delas. Por pura sorte, participei de uma formatura organizadíssima, substituindo um dos
colegas, que desistiu na última hora.
Certamente, toda essa mudança custaria
alguma coisa, e foi um ano a mais de curso, para adaptação da grade curricular.
Só que, na verdade, levei uma beiça da faculdade, que me cobrou por disciplinas
que cursei, mas depois foram dispensadas, tanto que não constam do meu histórico
escolar. Quer saber o resultado da ação reparatória que ajuizei? Basta dizer
que o ministro do STF que julgou em última instância é dono de faculdade, e, sim, amiguinho, ele jamais
criaria jurisprudência para tomar prejuízo no negócio posteriormente... Ah, a
justiça!
Acabei o curso em 2002 e, concomitantemente,
ingressei na Escola da Magistratura e na primeira pós-graduação. Depois, fiz cursos
de reciclagem e preparatórios para concursos públicos – queria ser juiz ou
defensor público, nunca membro do Ministério Público. Após a segunda
pós-graduação, batalhei por um mestrado cuja mensalidade eu poderia pagar, mas a
vaga me foi negada por eu não ser esquerdista o suficiente (isso ficou bem claro
pra mim na entrevista).
Em seguida, passei a me interessar por
política – não partidária –, e uma venda foi retirada dos meus olhos, aquela que
cega os idiotas úteis que acreditam que o comunismo, o socialismo ou qualquer
porcaria que defenda um regime coletivista, realmente se preocupa com o ser
humano. (Para piorar, posteriormente, descobri que há individualistas que batem pauta com esses coletivistas.) Acredito que foi pura sorte minha, pois estaria envergonhado se tivesse
“adaptado” meu projeto de dissertação, como queriam as simpáticas senhorinhas
que avaliaram os três candidatos à vaga única do mestrado.
O comportamento de certa forma
intransigente em alguns assuntos, o qual norteia minha vida, rende críticas de
gente mais esperta que eu, de quem, para meu próprio bem, diz que eu deveria “jogar
o jogo”. Não consigo. É da minha natureza, e me sinto velho demais para certas
mudanças, mormente de cunho moral.
Passei anos estudando muito (estudo
até hoje, como requer minha profissão), e não pude perceber as mudanças havidas (para
pior) na sociedade, no comportamento da população, a partir da ascensão do
lulopetismo no Brasil, embora seja importante não esquecer que o pontapé
inicial foi dado por FHC. E que pontapé!
Quando comecei a ler livros sobre o
conservadorismo; a me inteirar do que Marx e seus asseclas realmente escreveram
e, principalmente, dos crimes de Stálin, Mao Zedong, Pol Pot, dos irmãos Castro
e de toda a corja responsável por mais de 100 milhões de mortes em tempos de
paz; e quando soube de histórias como holodomor, fiquei muito irritado por ter
sido um idiota que usava broches de Che Guevara e desenhava a foice e o martelo
nos cadernos do colégio, na juventude.
Descobri que havia sido vítima de doutrinação por formadores de consenso, mas
muita coisa ainda estava por vir. Pelas redes sociais fui tendo acesso a um
mundo desconhecido, uma espécie de mundo paralelo, no qual havia muitas pessoas
ruins influenciando inúmeros idiotas (úteis) que repetiam jargões, palavras de
ordem, agindo como bodes cegos ao espocarem fogos de artifício. Doía saber que tinha
sido um dos bodes.
A cada dia leio e ouço coisas que me
deixam envergonhado de dividir a categoria de ser humano com quem, p.ex.,
defende que drogados tenham o direito de se drogar mais – o que, na prática, leva-os
a cometerem crimes contra inocentes, quando acaba o dinheiro para mais drogas –; com
quem concorda que crianças (mesmo depois de nascidas) sejam mortas por vontade
da “mãe-hospedeira”; com quem aprova a venda de crianças por pais que não
tenham condições ou não queiram sustentar os filhos; com quem luta para que
suas perversões sexuais sejam ensinadas a crianças de 5, 6 anos de idade; com quem
exige o patrocínio estatal de cirurgias de mudança de sexo e também o fornecimento de hormônios,
tratamento etc., e entende que crianças podem decidir amputar partes do corpo
para mudar o sexo; com quem diz que é uma cabra, um reptiliano ou outra coisa,
e quer impor que isso seja aceito com naturalidade; com quem trata melhor
animais e plantas que outros seres humanos; com quem silencia diante da
ditadura do politicamente correto, para não ofender aos “sensíveis”...
Diante de casos como esses, há quem repita
as palavras de Silvio Brito: “Pare o mundo, que eu quero descer!”. Mas isso está errado. Os lunáticos é que
devem descer.
E você? Não está sabendo, não ouviu
falar disso? Então, pare de assistir à programação bizarra da TV, faça algo
decente por sua vida e pela sociedade, e nunca (NUNCA!) acredite naqueles que se dizem humanistas e “lutam por um mundo melhor”.
Muitos deles podem até amar a “humanidade”, um ente abstrato, mas odeiam o indivíduo que está próximo.
São pessoas perniciosas que, mesmo sem saber, lutam por um projeto de poder que
visa apenas a escravizar pessoas, tirando seu sangue para dar boa vida a
sanguessugas instaladas no poder e seus apaniguados.
(Continua... e é melhor)
Fernando César Borges Peixoto
Advogado,
niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma,
um saudosista que agora inventou de escrever poesia.