quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A caça às filigranas bolsonarianas




Na última semana do segundo turno das eleições presidenciais, a nova narrativa da grande mídia para atingir a campanha de Jair Bolsonaro foi tirada de uma declaração de seu filho Eduardo, o deputado federal mais votado da história brasileira, em palestra proferida na AlfaCon Concursos Públicos 1.
Questionado se o Exército poderia agir mesmo sem ser provocado, com base na Constituição, caso o STF impedisse Jair Bolsonaro de assumir o cargo de Presidente da República, Eduardo respondeu, em suma, que a pergunta caminha para o Estado de exceção, em que o Judiciário teria que “pagar para ver” ao impugnar a vitória de um candidato eleito pelo povo, e que seria “o STF contra nós”. Disse que é algo que muitos falam que pode acontecer, mas pouco pode ser dito; e duvidou da força do STF para tanto. Lembrou que há quem brinque dizendo que para fechar o STF não é necessário o Exército intervir, basta enviar um soldado e um cabo. Também lembrou que os ministros da Corte não gozam de apoio popular; e que ninguém iria às ruas pedir a soltura de um deles que porventura fosse preso. Enfim, concluiu, essa é uma resposta que só pode ser dada se a campanha de Jair Bolsonaro for realmente impugnada, mas que não acredita que isso seja feito, porque uma coisa é fraudar 1% ou 2% dos votos nas urnas, outra é fraudar 40%.
A declaração não deveria causar espanto, principalmente pelo desdém direcionado a planos, ameaças e tentativas da esquerda de censurar o Judiciário, disfarçados por eufemismos como democratização, democracia participativa e submissão à vontade popular, p.ex. Quem não encara a resposta de forma enviesada, percebe que o apoio popular norteou o comentário, e não houve ameaça alguma às instituições, as quais, diga-se, funcionam muito bem para tocar a agenda progressista, apesar do falso discurso de algumas autoridades.
Mas, sim, essa foi a grande oportunidade que a imprensa, que aderiu a um lado, encontrou para atacar, e provocar a “instabilidade da vez”. E, como não poderia deixar de ser, a notícia foi reproduzida por todos os canais da mídia tradicional.
O Globo noticiou que Eduardo usou um “tom de ameaça” ao falar sobre a possibilidade de o STF impugnar a candidatura de seu pai 2. O veículo também afirmou que “ao longo de sua campanha, Haddad tem mostrado afirmações feitas por Bolsonaro em defesa da ditadura e da tortura”, e que a estratégia do PT é “mostrar que seu candidato representa a democracia” 3. (destaquei)
Fernando Haddad não perdeu a oportunidade. Disse que o filho do adversário “ameaçou fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) com uma intervenção militar” 4; e assim se referiu a Bolsonaro e seus filhos: “Esse pessoal é uma milícia. Não é um candidato a presidente. É um chefe de milícia. Os filhos deles são milicianos, são capangas. É gente de quinta categoria”.
Haddad responde a 32 processos, acusado de receber dinheiro (na operação Lava Jato), de caixa 2, de improbidade administrativa e de superfaturar obras. Segundo a revista Isto É, “o candidato reproduz o modelo petista de malfeitos na gestão pública”. “Malfeito”, diga-se, foi o eufemismo utilizado pelo PT para amenizar o peso real dos crimes de corrupção e de formação de quadrilha, p.ex.
A revista chama a atenção também para o fato de que, além do seu envolvimento direto em várias irregularidades, a equipe de Haddad é formada por pessoas também processadas por crimes na Lava-Jato, o que dá indicativos concretos da reativação da máquina de corrupção petista; e continua: “além do risco de retrocesso ético, a eleição de um novo poste de Lula para o cargo de presidente resgatará a ameaça da ineficiência e da incompetência administrativa que marcou a gestão de Haddad tanto à frente da Prefeitura de São Paulo, como do Ministério da Educação” 5.
O parceiro de Estratégia das Tesouras, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, usou a conta do Twitter pra dizer que: “as declarações do deputado ‘cruzaram a linha, cheiram a fascismo’”, e devem ser repudiadas pelos democratas, pois “ameaça o STF”.
Mas, cadê a grande repercussão sobre o Plano de Governo do PT para a Presidência, que fala da necessidade de democratizar “as estruturas do Poder Judiciário e do Ministério Público”, e que, para tanto, devem-se instituir medidas que estimulem “a participação e o controle social” no âmbito dessas instituições 6?
Matéria do site Consultor Jurídico, destacou que, após “o PT, ser duramente atingido pela operação ‘lava jato’ e ter seu líder – Lula – condenado, preso e declarado inelegível, o candidato a presidente Fernando Haddad quer maior controle sobre o Judiciário e o Ministério Público”. Haddad teria dito que “o Judiciário brasileiro não é transparente e que não há controle suficiente sobre o órgão”, pois mesmo depois da Constituição de 1988, manteve-se fechado ao controle e à transparência, apresentando “grande resistência às mais simples formas de abertura e prestação de contas à sociedade”. Uma das soluções seria “instituir ouvidorias externas, ocupadas por não magistrados”, com o objetivo de “ampliar a participação da sociedade na fiscalização da instituição” 7. Em regra, a “ampliação da participação da sociedade” está ligada à criação de sovietes/comitês bolivarianos, cuja função é retirar das mãos do eleitor o poder de escolher seus representantes. São antros da esquerda, criados ou capturados seguindo a teoria da ocupação de espaços, concebida por António Gramsci.
Há poucos meses, o petista Wadih Damous, veiculou um vídeo nas redes sociais, dizendo que o STF deve ser fechado, e o Poder Judiciário, redesenhado. Sua ira se justificava pela prisão do ex-presidente Lula da Silva, e pelo fato do ministro Luís Roberto Barroso ter negado um habeas corpus preventivo. O deputado disse também que os ministros do STF não podem ditar “os rumos do processo eleitoral, da escolha popular e da democracia brasileira”, pois “não foi para isso que essa turma foi colocada lá”. Ao final, afirmou que vinha alertando aos deputados federais: “ou nós enquadramos essa turma ou essa turma vai enterrar de vez a democracia brasileira” 8.
Não houve estardalhaço, a imprensa não questionou o significado de “o motivo da turma ter sido colocada lá” e “ou enquadramos essa turma”. Nem o STF repudiou imediata e veementemente as alegações que, essas sim, comprometem o Estado de direito, ameaçam as instituições que, sempre dizem, “estão funcionando”. Talvez a assessoria de nenhum ministro tenha sido eficiente como a da Ministra Rosa Weber 9.
Além de Rosa Weber, outros membros do STF também criticaram as declarações de Eduardo Bolsonaro 10.
Segundo o ministro Celso de Mello: “a declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável) de parlamentar cuja atuação no Congresso, mantida essa inaceitável visão autoritária, só comprometerá a integridade da ordem democrática e o respeito indeclinável que se deve ter pela supremacia da Constituição”. Celso de Mello protagonizou a história em que o jurista Saulo Ramos o chamou, depois de já estar empossado no Supremo, de “juiz de merda”, como relatado no livro de memórias “Código da Vida” 11.
Já o ministro Alexandre de Moraes, após tecer sua crítica, pediu que a Procuradoria-Geral da República abra um inquérito para investigar as declarações.
José Dirceu, condenado a mais de trinta anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Lava-Jato, tempos atrás criticou o Ministério Público, por ter se tornado uma corporação privilegiada, sem controle algum, quando o STF lhe reconheceu poderes investigatórios. Para ele, o órgão deve se limitar à tarefa de acusar. Ainda disse que a Lava-Jato é um dos maiores erros do país, sendo a grande responsável pela “estagnação econômica”, pois o combate à corrupção na operação possui fins políticos, e viola o ordenamento jurídico 12.
Há poucos dias, ao ser questionado da “possibilidade de o PT ganhar essas eleições e não levar”, Dirceu respondeu que a comunidade internacional não aceitaria, mas que “dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição” (destaquei). Da mesma forma que aconteceu com as ameaças de Mauro Iasi à vida de direitistas, a declaração intimidatória de Dirceu não foi encarada com a seriedade requerida.
Sobre o possível governo de Jair Bolsonaro, Dirceu afirmou: Bolsonaro é o Temer mais a regressão de comportamento cultural e o autoritarismo não democrático”. Certamente, o ex-guerrilheiro justifica antecipadamente o uso da força para a tomada do poder das mãos de Bolsonaro, se ele for eleito, “em nome da democracia” e “contra o autoritarismo” 13.
Só o interessado, ou o bastante alienado, não enxerga o exagero da repercussão dada às declarações e/ou ações de Bolsonaro e seus colaboradores, pela mídia que abafa a divulgação de crimes, ameaças e declarações infelizes de seus adversários. Chega a ser hilário ouvir a esquerda e sua militância vociferando que a mídia nacional é golpista e de direita, enquanto está muito claro qual é o seu lado.
O fim das eleições presidenciais se aproxima, e uma vitória acachapante está desenhada, mas os jornalistas da mídia tradicional, que vestem despudoradamente a camisa da militância, não desistem, e chafurdam em cada canto da internet à procura de material que desabone a campanha abraçada (e de graça!) pelo povo, o que é inaceitável para seguidores de uma ideologia cujos detentores do poder e apaniguados, usam como um dos principais meios de ação, comprar as pessoas que foram tornadas cativas, dando e tomando, ao bel-prazer, bens, dinheiro e a própria dignidade desses que lhes são submissos.
Enquanto buscava com avidez a descoberta de fatos e notícias impactantes contra Jair Bolsonaro, usando inclusive muitas fake news, a imprensa, que finge ser isenta, não percebeu que caía no ridículo mediante a opinião pública, aquela que antes era manipulada, (de)formada a partir dos parâmetros estabelecidos pelo establishment. Para piorar, deu voz a seus aliados do meio artístico, político e da Academia, para formar uma cruzada com o objetivo de censurar as redes sociais, que libertaram a população, permitindo-lhe escolher o acesso a informações sem manipulação.
Parece que as cabeças pensantes da grande mídia estacionaram seu campo de visão na espiral do silêncio 14, da qual sempre lançaram mão para calar vozes dissonantes, e não estão preparadas para os tempos do anti-frágil, teoria de Nassim Nicholas Taleb que Flavio Morgenstern tão bem contextualizou ao analisar a situação do próprio Jair Bolsonaro 15, que sempre saiu ainda mais fortalecido de cada campanha contrária (muitas vezes injustas e/ou mentirosas). Como dizem os fieis eleitores: o “Mito” é como massa de pão, que cresce mais a cada pancada que recebe.

NOTAS

1 Eduardo Bolsonaro e Evandro Guedes no Presencial de Cascavel-PR. AlfaCon Concursos Públicos, 10/07/2018. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=csHwfjD-Hhs;

2 A matéria traz na íntegra o que foi falado por Eduardo Bolsonaro: Em vídeo, filho de Bolsonaro diz que para fechar o STF basta “um soldado e um cabo”. G1, 21/10/2018. Disponível em https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/10/21/em-video-filho-de-bolsonaro-diz-que-para-fechar-o-stf-basta-um-soldado-e-um-cabo.ghtml;

3 Roxo, Sérgio. Haddad reage a vídeo em que filho de Bolsonaro ameaça STF: família é um “grupo de milicianos”. G1, 21/10/2018. Disponível em https://oglobo.globo.com/brasil/haddad-reage-video-em-que-filho-de-bolsonaro-ameaca-stf-familia-um-grupo-de-milicianos-23173818;

4 No Maranhão, Fernando Haddad diz que filho de Bolsonaro ameaçou STF. Folha de São Paulo, 21/10/2018. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/no-maranhao-fernando-haddad-diz-que-filho-de-bolsonaro-ameacou-stf.shtml;
5 OLIVEIRA, Germano. Uma extensa ficha corrida. Isto é, 04/10/2018. Disponível em https://istoe.com.br/uma-extensa-ficha-corrida/;
6 Plano de Governo do PT 2019/2022. Fernando Haddad, Presidência da República. Disponível em http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2018/08/plano-de-governo_haddad-13_capas-1.pdf;
7 RODAS, Sérgio. Haddad defende mandato para ministros do STF e redução de benefícios do Judiciário. ConJur, 24/09/2018. Disponível em https://www.conjur.com.br/2018-set-24/haddad-mandato-stf-reducao-beneficios-judiciario;

9 Rosa Weber rebate fala de Eduardo Bolsonaro sobre STF. Estadão, 22/10/2018. Disponível https://exame.abril.com.br/brasil/rosa-weber-rebate-fala-de-eduardo-bolsonaro-sobre-stf/;

10 Ministros do Supremo reagem às declarações de Eduardo Bolsonaro. Jornal Nacional, 22/10/2018. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/10/22/ministros-do-supremo-reagem-as-declaracoes-de-eduardo-bolsonaro.ghtml;
11 “Entendi que você é um juiz de merda”https://www.oantagonista.com/brasil/entendi-que-voce-e-um-juiz-de-merda/;

12 Góes, Bruno e Megale, Bela. 'Tem que tirar o poder de investigação do Ministério Público', diz Dirceu. O Globo, 30/09/2018. Disponível em |https://oglobo.globo.com/brasil/tem-que-tirar-poder-de-investigacao-do-ministerio-publico-diz-dirceu-23114884;

13 ROSSI, Marina. José Dirceu: “O problema do Bolsonaro é do PSDB e DEM. Sem Lula, temos Ciro e Haddad”. El País, 26/09/2018. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/24/politica/1537815456_213002.html;

14 Para melhor entender o tema: NoeLLE-NeUMAnn, Elisabeth. A espiral do silêncio – opinião pública: nosso tecido social. Florianópolis: Estudos Sociais, 2017;

15 Morgenstern, Flavio. A anti-fragilidade de Bolsonaro. Senso Incomum, 26/04/2016. Disponível em http://sensoincomum.org/2016/04/26/a-antifragilidade-de-bolsonaro/.

 

 

[Texto originalmente publicado no portal Análise Inversa]


Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, conservador, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.

 


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Roger Waters e a invertida: militância paga?



Sérgio Sá Leitão, ministro da Cultura, revelou pelo twitter que o músico Roger Waters, ex-guitarrista do Pink Floyd, ativista acusado de antissemita por apoiar um boicote econômico, cultural e político a Israel, recebeu R$ 90 milhões por sua turnê, para fazer campanha eleitoral disfarçada em favor do candidato Fernando Haddad [1], nos shows realizados no Brasil, no curso do segundo turno das eleições presidenciais. Para o ministro, essa é a verdadeira caixa 2 ocorrida nessas eleições, pois uma empresa brasileira pagou US$ 3 milhões por show pela campanha favorável ao petista.
Os shows do Brasil foram programados para outubro, nas seguintes datas: São Paulo (09 e 10), Brasília (13), Salvador (17), Belo Horizonte (21), Rio de Janeiro (24), Curitiba (27) e Porto Alegre (30).
Sem apresentar uma única prova, o músico vem insistindo em atingir a reputação de Jair Bolsonaro, candidato oponente, chamando-o de “corrupto”, “louco”, “vingativo e insano”. Já no primeiro show da turnê, no Alianz Parque, em 09/10/2018, Waters aderiu à campanha #EleNão no palco, e exibiu a frase “Neofascismo está em ascensão”, elencando o nome de Bolsonaro ao lado de líderes mundiais, como Donald Trump, Viktor Orbán, Marine Le Pen, Sebastian Kurz, Jaroslaw Kaczynski e Niger Farage, além de Vladimir Putin, único nome seguido por um sinal de interrogação [2]. Recebeu uma baita vaia e, dada a repercussão negativa de sua atitude, fez-se de vítima no show seguinte, em que exibiu a mensagem “ponto de vista político censurado” sobre o nome de Bolsonaro, e usou vários jargões dos “humanistas” que amam o ser abstrato “humanidade”, sem se preocupar com quem está próximo: “... todas as etnias, religiões e nacionalidades merecem ter os direitos humanos básicos” [3]. No show em Salvador, seu telão exibiu a imagem de Moa do Katendê, cuja morte numa discussão de bar, foi instrumentalizada pela esquerda, que afirmou que o mestre de capoeira teria sido morto por um partidário de Bolsonaro, numa discussão sobre política; e no do Rio de Janeiro, a homenageada foi Marielle Franco [4], política de extrema-esquerda, morta por supostos adversários políticos.
Fora dos palcos, o músico continuou com suas declarações polêmicas, para utilizar o jargão da grande mídia, como na entrevista concedida à Folha de São Paulo, em 19/10/2018 [5], quando denunciou a severa separação entre ricos e pobres por todo o mundo, e falou que em São Paulo, p.ex., há casarões bastante vigiados, cercados por grades, em locais que, logo adiante, há pessoas vivendo na sarjeta. O cantor, que vive num palacete, cobra uma montanha de dinheiro para dar shows em países periféricos como o Brasil, inviabilizando que aqueles que “merecem ter os direitos humanos básicos”, segundo suas próprias palavras, tenham acesso à diversão.
Sobre o presidiário Lula da Silva e a impeachada (e reprovada nas urnas) Dilma Roussef, ele foi bastante ameno ao questionar o motivo pelo qual o Lula teria roubado dinheiro do povo, e se essa era a história verdadeira.
Tudo não passa de um mise-em-scène esquerdista, pois enquanto ataca um homem honesto, defende os que criam fortunas mantendo os seguimentos “minoritários” da sociedade que dizem defender sob seu jugo, e ainda desviam milhões do dinheiro que a eles deveria ser destinado.
O músico, que acredita na importância de suas opiniões políticas, mesmo desconhecendo o conceito real de ideologias como o fascismo, também declarou não saber o que acontece no Brasil, e que as informações sobre a situação política dos países nos quais se apresenta, são obtidas em conversas informais, com pessoas com quem se encontra no período de estadia. Parece que o ativista filtra as informações, aceitando apenas as que não contrariam a agenda esquerdista, pois criticou o chefe de sua equipe de segurança no Brasil, por dizer que Bolsonaro não se rendeu à corrupção e representa a novidade na política.
Ele ainda disse que, “dependendo do resultado da eleição”, espera que os brasileiros não peçam sua volta ao país até o retorno da democracia.
A denúncia do ministro Sérgio Sá Leitão, que foi criticado por Waters por repudiar manifestações políticas em shows, além de escancarar a hipocrisia do músico, e a sua desonestidade ao cometer crime eleitoral, comprovará a utilização (mais uma vez) da máxima esquerdista, atribuída a Lênin: “acuse-os de fazer aquilo o que você faz; xingue-os daquilo o que você é”.



NOTAS
[2] Praça, Sérgio. Roger Waters precisa de educação. Exame, 10/10/2018. Disponível em https://exame.abril.com.br/blog/sergio-praca/roger-waters-precisa-de-educacao/;
[3] Roger Waters reage a vaias e se diz 'censurado' em segundo show em São Paulo. O Globo, 11/10/2018. Disponível em https://oglobo.globo.com/cultura/musica/roger-waters-reage-vaias-se-diz-censurado-em-segundo-show-em-sao-paulo-23148326;
[4] Roger Waters defende boicote ao Brasil em defesa da democracia. Brasil 247, 22/10/2018. Disponível em https://www.brasil247.com/pt/247/cultura/372744/Roger-Waters-defende-boicote-ao-Brasil-em-defesa-da-democracia.htm;
[5] Menezes, Thales de. Roger Waters agradece vaias em SP e diz que Bolsonaro é corrupto e insano. Folha em São Paulo, 19/10/2018. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/10/roger-waters-agradece-vaias-em-sp-e-diz-que-bolsonaro-e-corrupto-e-insano.shtml.


[Texto originalmente publicado no portal Análise Inversa]




Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, conservador, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Eu tive um sonho



Eu tive um sonho, vou lhes contar...
Sonhei que nossos artistas esquerdistas milionários haviam dividido suas fortunas com pessoas carentes de todo o mundo, em especial brasileiras, e se recusaram a aceitar dinheiro de leis de incentivo, como Rouanet e do Audiovisual, antes mesmo delas serem revogadas. Comediantes sem graça e carisma haviam desistido das carreiras profissionais, e dispensado o dinheiro público que patrocinava as excentricidades e panfletagens ideológicas que chamavam de trabalho.
Cantores da MPB, seguindo os mesmos passos, vendiam seus imóveis de luxo no Brasil e no estrangeiro, para esquentar o mercado imobiliário das periferias do Brasil e de países como China, Afeganistão, Vietnam, Guiné-Equatorial, Cuba e Coreia do Norte. Em verdade, os adeptos do comunismo raiz haviam transformado Pyongyang em seu destino preferido. Mas, para não cometer injustiças, a Albânia era um país europeu muito disputado.
Artistas da maior emissora de TV do país se negavam a dar palpites na política, assumindo que não possuíam capacidade intelectual para tanto, porque não haviam estudado nada que os habilitasse a tratar de assuntos mais profundos. E feministas do meio artístico e midiático trocavam férias na Europa e nos Estados Unidos por turismo nos países árabes, onde diziam haver menos opressão que no Brasil.
Jornalistas haviam feito passeatas, pedindo que os veículos de notícia se posicionassem politicamente, para evitar que ouvintes e leitores fossem enganados por discursos ideológicos transmitidos como notícias verdadeiras; e agências de fact check foram fechadas a partir de movimentos liderados por partidos de esquerda, estudantes e jornalistas, acusadas de descumprirem sua finalidade, ao validarem notícias falsas (fake news) de seus pares, e condenarem notícias verdadeiras de viés político oposto ao de seus administradores.
Os espaços das universidades federais - que agora cobravam mensalidade ou trabalho voluntário após a formatura, como forma de retribuir o ensino gratuito -, passaram a ser divididos democraticamente entre coxinhas, mortadelas e outras variedades alimentícias. As pichações estavam proibidas, e a polícia podia adentrar os campi sem manifestações contrárias, para prender "traficantes com consciência social".
A academia aceitava, nas pós-graduações, pessoas de todas as vertentes de pensamento, e o dinheiro para pesquisa não era mais distribuído apenas entre quem se alinhasse ideologicamente ao governo. Com o tempo, o país passou a ser mais respeitado pela comunidade científica.
Estudantes de classe média, defensores de teorias derivadas do pensamento marxista, usavam G-Shock e smartphones da CCE, e dispensavam seus pais de lhes comprar aparelhos eletrônicos de ponta e as drogas do dia a dia, preferindo pagar com o suor do trabalho no Vegan Donald’s. Os mais engajados fizeram um movimento exigindo que os professores deixassem de aprovar alunos ineptos.
Jovens moradores de bairros nobres que defendiam os direitos dos criminosos e a liberação do uso de drogas ilícitas, depois da fase inicial de expulsões de suas casas, mudavam espontaneamente para as periferias; e os espaços que antes ocupavam, eram cedidos a moradores de comunidades carentes que enfrentavam horas no trânsito, de sua casa para o trabalho e vice-versa, para ocuparem melhor seu tempo.
Por obra do PCdoB do meu sonho, a inveja sobre bens alheios havia sido criminalizada, e ninguém mais poderia atacar as pessoas bem sucedidas pelo simples fato de serem... bem sucedidas.
O PSOL do meu sonho havia proposto duas alterações no sistema penal: uma lei estabelecia que menores de qualquer idade, que cometessem crimes hediondos, responderiam como adultos; e outra lei estabelecia, para os demais crimes, a menoridade penal aos 14 anos. Nas ruas, em prol da aprovação, a militância gritava: “se pode foder, matar e cheirar pó, pode viver no xilindró”.
Ministros das cortes superiores do Judiciário combinaram um pedido de demissão em massa, e se colocaram ao escrutínio do povo, para aprovação da sua volta. Apenas três deles voltaram a exercer suas funções; e os que sequer saíram do traço na apuração dos votos, agradeceram e se propuseram a melhorar.
Aquilo tudo era lindo, mas eu me sentia agoniado. Eram tantas mudanças, e tudo acontecia tão depressa, que eu temia fazer algo errado que acabasse me levando à prisão até o fim de meus dias, proibido de ver esposa e filhos. Outra coisa que me passava pela cabeça era a possibilidade de, a qualquer momento, aparecer um debilóide dizendo: “Rá! É pegadinha! Glu-glu, ié-ié” ou algo do gênero.
De repente me vi num local escuro, suando frio, apavorado, olhando repetidamente para os lados. Qualquer estalo fazia meu coração saltar do peito. Um barulho estranho começou a incomodar quando, de repente...
Acordei com uma barulheira infernal – o vizinho de trás havia ligado a serra que ele insiste em colocar para funcionar bem cedinho, talvez para acordar os galos. Afinal, deve ser tão comum encontrar um galo num bairro de mais de noventa por cento de edifícios, quanto é encontrar alguém com uma serra elétrica industrial no fundo do quintal, nesse mesmo bairro.
Aproveitei para lavar as fuças e ir à feira, porque dormir não dava mais não.

Era sábado.

Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, conservador, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.


quarta-feira, 3 de outubro de 2018

DesconstruCiro Gomes



É preciso tirar o véu de democrata e intelectual com que a esquerda cobre Ciro, contumaz falseador de números, que desdiz o que disse, e não passa de um truculento agente revolucionário fantoche do esquema russo-chinês.

Ciro no Foro de São Paulo, Daciolo e Zé Dirceu
O articulador do PT nas sombras, Zé Dirceu, no programa “Provocações”, listou os países da América Latina presididos por esquerdistas ligados ao Foro de São Paulo, e que do encontro do Grupo de Marbella, os únicos que ainda não haviam chegado à Presidência eram Ciro Gomes e Cárdenas (mexicano). Ele também falou que a união desses políticos é condição para continuarem os avanços para a integração da América Latina, com a instauração do Banco do Sul, a consolidação do Mercosul, a integração energética, a construção do gasoduto, e a criação da zona de livre-comércio entre todos os países (Bloco 1: https://www.youtube.com/watch?v=rffeSETvrrc; Bloco 2: https://www.youtube.com/watch?v=jN9jm6CNBCk; e Bloco 3: https://www.youtube.com/watch?v=9S5QwwV6Jdc).
No debate entre presidenciáveis realizado na Rede Bandeirantes, Cabo Daciolo afirmou que Ciro era um dos fundadores do Foro de São Paulo, e pediu para ele explicar o que seria o plano URSAL. Ciro fez um gracejo, e respondeu: “Eu não sei o que é isso. Não sou fundador do Foro de São Paulo. E acho que está respondido” (https://www.youtube.com/watch?v=7ANqSdWvTlo).
Heitor de Paola já havia falado na intenção dessas lideranças esquerdistas, de formarem um bloco com o apoio do maior número de países, que seria chamado URSAL (Unión de las Republicas Socialistas de America Latina) ou pelo título já proposto anteriormente: ALBA (Alternativa Bolivariana para las Americas). (Heitor de Paola. O eixo do mal latino-americano e a nova ordem mundial. Observatório Latino, 2016, p. 192)

Ciro com a mão na massa
Ciro é conhecido por possuir forte relação com a mentira, com a criação de dados e números ao falar em público, com tom professoral, buscando dar ares de veracidade e de importância a seus argumentos; e com a mania de afirmar que não disse o que disse, fazendo malabarismos para “provar” que “não foi bem assim” quando alguém apresenta o material gravado (bendita era digital).
Ele chamou a oposição venezuelana, que enfrenta uma ditadura assassina, de “fascista, neonazista, entreguista, vendilhã da pátria”, usando, inclusive, o discurso piegas do imperialismo norteamericano; e é fato veiculado pela página do seu atual partido (PDT), em julho de 2017, um encontro com o Partido Comunista Chinês (PCCh) para promover sua candidatura de Ciro e falar da “integração das instituições com foco no desenvolvimento social”.
Nesse encontro, aliás, o secretário-geral do PDT falou da necessidade de buscar compromisso com aliados como a China, “uma nação justa, democrática e socialista”, para um possível enfrentamento ao governo de Donald Trump.
O representante do PCCh declarou, entre outras coisas, que “os partidos têm semelhanças nas ideologias. Com base nos princípios de independência, estamos totalmente dispostos a fortalecer o intercâmbio, o conhecimento e a confiança” (http://www.pdt.org.br/index.php/pdt-e-partido-comunista-da-china-fortalecem-parceria-e-discutem-candidatura-de-ciro/).

Quem é o Partido Comunista Chinês na fila do pão?
O PCCh, como é a finalidade de países socialistas/comunistas, confunde-se com o próprio Estado, e o ditador da China, Xi Jinping, recebeu poderes ilimitados do parlamento chinês para o exercício do mandato presidencial, e teve o nome incluído nos estatutos do Partido Comunista do país, honraria que só Mao Tsé-Tung havia recebido.
O país desenvolveu um modelo próprio de socialismo, que de um lado admite certa abertura econômica, reduzindo, na medida do possível, as barreiras à entrada de investimentos estrangeiros; e de outro exerce forte controle sobre a mídia e a internet, reprime a sociedade civil, persegue religiões, ativistas dos direitos humanos e adversários políticos.
Na abertura do Congresso do PCCh de 2017, o líder, que não considera necessária a realização de reformas políticas, disse que mergulharia o país numa “nova era socialista”, e traçou como meta chegar à posição de líder mundial até 2050 (https://g1.globo.com/google/amp/mundo/noticia/parlamento-chines-altera-constituicao-e-xi-jinping-pode-ficar-na-presidencia-por-tempo-ilimitado.ghtml; e https://oglobo.globo.com/mundo/xi-jinping-defende-autoridade-promete-nova-era-do-partido-comunista-na-china-21960015?versao=amp).
Esse é o parceiro de Ciro Gomes na condução do Brasil, caso seja eleito.

Partidos de esquerda – farinha do mesmo saco
Segundo Ciro Gomes, sua vitória nas eleições seria a única chance de Lula sair da prisão. A seu ver, “o Brasil não terá paz” enquanto ele estiver preso. E como não poderia ser diferente, repetiu o mesmo discurso autoritário petista, dizendo que vai “restaurar a autoridade do poder político” ao fazer com que juízes e membros do Ministério Público voltem às suas “caixinhas”.
Também afirmou que, embora zangado, “cansou de avisar a Lula” sobre a corrupção (ele chamou de problemas) em seu governo, mas ainda assim ajudou a ele e a Dilma, mesmo sabendo que “ia dar problemas” e vendo “as coisas acontecendo” (https://oglobo.globo.com/brasil/lula-so-tem-chance-de-sair-da-prisao-se-gente-assumir-poder-diz-ciro-22916212?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo). 
Zé Dirceu, quando preso, deu uma Gramsci, e escreveu algumas cartas do cárcere. Nelas consta que o PT iria virar ainda mais à esquerda: “Nada será como antes e não voltaremos a repetir os erros. Seguramente, voltaremos com um giro à esquerda para fazer as reformas que não fizemos na renda, riqueza, poder, a tributária, a bancária, a urbana e a política. Não se iludam vocês e os nossos. Não há caminho de volta. Quem rompeu o pacto que assuma as consequências”. Na ocasião, ele afirmou que nada impediria o PT de apoiar a candidatura de Ciro Gomes no 1º ou no 2º turno (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,da-cadeia-dirceu-defende-mudanca-no-pt-e-quer-guinada-a-esquerda-em-2018,70001761169).
Quando Ciro estava bem posicionado nas pesquisas, Lula também conclamou seus eleitores a firmarem um pacto com ele no segundo turno, por ser “um candidato do mesmo campo político” (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/06/lula-pede-a-petistas-que-facam-pacto-de-nao-agressao-com-ciro.shtml). 
Porém, como a candidatura não decolou, de dentro da cela, Lula assumiu o posto de coordenador da candidatura do seu poste, Andrade. E para inflar a campanha, vem cooptando caciques do Norte-Nordeste, determinando a entrega de dinheiro e prometendo participação no novo governo.
A campanha de Ciro foi das mais atingidas. Exemplo disso foi o Maranhão. Querendo apoio para Haddad, Lula mandou o governador Flávio Dino (PCdoB) largar Ciro, e pediu ao mensaleiro Valdemar Costa Neto para injetar os R$ 6 milhões pedidos pelo deputado Weverton Rocha (PDT), para sua campanha. O avião que levava o dinheiro caiu, mas foi recuperado e chegou ao seu destino. Mas o pior mesmo foi a interferência no Ceará, terra de Ciro. O governador Camilo Santana, do PT, foi avisado com severidade que deveria largar Ciro e apoiar Haddad, e o resultado não está sendo bom para o coroné (https://istoe.com.br/como-lula-opera-a-campanha-da-cadeia/).
Ciro sofre com isso, mas tudo bem, vale tudo pela causa. Sabe que “o bom cabrito não berra”, e pode ser que sobre um ministério bacana, ou uma estatal nos trinks.
O que o aguarda, o futuro dirá.


Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, conservador, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A dona de nome engraçado



Ela tinha vergonha do nome. Como queria trocá-lo na Justiça, juntava dinheiro para pagar ao advogado. Disseram que na Defensoria Pública era de graça (apesar da imensa carga de “impostos”, há quem ache que recebe “serviço grátis do Estado”), mas, nas vezes em que esteve lá, a experiência não foi boa. Ficava constrangida com a atitude do jovem ajudante da Defensora, que vinha com a pasta na mão, e começava a gritar, satisfeito:
- Dona Bucetildes! Dona Bucetildes!
Porque a gargalhada era geral, ela não ousava se identificar. Então, esperava que chamasse outra pessoa para sair de fininho, e voltar pra casa. Depois da terceira vez, desistiu.
Gostava de ser chamada de Tilde, e atendia até um "Matilde". Quando possível (ou necessário), dava o segundo nome: Felicidade. Bucetildes Felicidade Amaro era o nome de solteira, ao qual foi acrescentado o Pinto, do marido. O sobrenome, aliás, quase a fez desistir de casar; e no dia do casamento, na hora do compromisso, o Padre mal falava seu nome, ela respondia apressada:
- Aceito!
Jamais perdoou o pai por descontar nela a raiva que sentia da sua mãe, que fez da vida dele um inferno nas semanas que antecederam o parto. Chegando ao cartório, ele mandou o escrivão registrar o nome da filha igual ao que estava escrito no guardanapo que entregou.
Em verdade, parece que a gravidez alterava profundamente o psicológico de sua mãe, pois a segunda filha foi batizada como Popozilda. Essa, porém, não se importava. Ao contrário de Bucetildes, nome que só trazia desgosto, Popozilda era o nome artístico ideal para a promissora carreira de funkeira, a qual ela havia abraçado.
* * *
Enfim, uma sentença autorizou Bucetildes a trocar o nome. Mas, tão-logo efetivada a mudança em cartório, seu Pinto, o marido, faleceu. Nem puderam comemorar. Ela, então, resolveu mudar de cidade. Queria uma vida nova, com o nome novo que havia escolhido: Flamenguina.
Sim, Flamenguina! Sendo filha de quem era, não poderia, realmente, ter o gosto bem apurado. E isso quase levou a juíza a negar o pedido de alteração. Porém, como era adepta do politicamente correto, autorizou, alegando que “a mulher pode ser o que quiser”, e “gosto não se discute, no máximo se lamenta”.
A agora Flamenguina ainda era jovem, e possuía encantos. Não era assanhada e cavalona como Popozilda, mas contava com um belo corpo e um it natural. Recebia não raros elogios na rua, e o assédio de maridos infelizes, com suas mulheres infelizes, algumas até conhecidas.
* * *
Foi morar no subúrbio da capital de outro estado. Uma comunidade de certa forma tranquila. Tão logo chegou, começou a chamar a atenção dos pançudos e pinguços das redondezas. Mas as esposas, embora ciumentas, também se afeiçoaram a ela, com raras reações contrárias.
Aquela com quem possuía mais afinidade, e que acabou como uma espécie de conselheira, era a maior fofoqueira do bairro, e exatamente aquela que dizia que sua boca era um túmulo.
O tempo passou e, certo dia, num ataque de sincericídio, Flamenguina contou a Arminda – era como se chamava –, seu nome antigo. Arminda, por sua vez, chegou a perder o fôlego de tanto rir. No fim, ambas riram muito.
Mais adiante, a conselheira pediu uma quantia significativa de dinheiro emprestado, dando a certeza de pagar em poucos dias. Mas o acordo não foi cumprido, e Flamenguina foi deixada em palpos-de-aranha. Ela reclamou. Nada adiantou e ainda perdeu a amiga.
Para piorar, a partir de então, por onde passava, ouvia um zum-zum-zum, risinhos abafados. Não demorou muito, descobriu o motivo: uma desaforada e ciumenta, conhecida por apanhar do marido, fez um comentário em alto e bom tom sobre certa genitália ambulante, conhecida por todos do bairro.
Flamenguina foi conversar pessoalmente com Arminda, queria ouvir de sua boca se era capaz de tamanha falsidade. Sequer considerou o peculiar conceito de moral da “amiga”, que já a havia traído anteriormente.
Chegando à casa, tocou a campainha, e o neto endiabrado de Arminda, com seis anos, atendeu. Mal a deixou entrar, saiu correndo e gritando pelo corredor:
- Vovó, Vovó, é aquela moça com nome de xereca.
Uma voz lá de longe berrou:
- Menino desgraçado!
Engolindo grosso, foi embora. Triste, pensou em mudar de cidade novamente. Viu que tinha muito ainda que aprender com a vida, e que talvez devesse assumir que o nome era a sina da qual jamais se livraria.
Agora, porém, Flamenguina (ou Bucetildes) possuía algumas certezas: a sua beleza suscitava invejas; não deveria confiar tanto nas pessoas; e precisava, definitivamente, exercitar sua espiritualidade.


Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, conservador, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.