terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Brevíssima análise sobre lulopetismo, ocupação de espaços, “dividir para conquistar”, mentalidade revolucionária e expurgos


O “intelectual” progressista, titular do monopólio das virtudes e do discurso humanista, defensor das causas dos oprimidos, por longo tempo tripudiou dos adversários, que nunca estiveram à altura, fosse por covardia ou despreparo. Mas algo mudou, e apesar de terem o contraditório ainda censurado, os adversários estão saindo da espiral do silêncio e, mesmo de forma tímida e confusa, seguem rechaçando falsas narrativas e tentando estabelecer um debate lógico e racional.
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O revolucionário deseja o poder, seja tomando de assalto ou de forma sutil e “democrática”, pelo aparelhamento das instituições. Ele crê ser possível criar uma nova civilização perfeita, mas isso depende do máximo de adesão daqueles que viverão nesse paraíso terrestre. Então, lança mão de um discurso falacioso para conquistar corações e mentes (ou corações dementes), assumindo tal regime como o único capaz de realizar valores (abstratos e de fácil manipulação semântica) como igualdade, liberdade, paz e justiça social. Além disso, afeta preocupação com pobres, oprimidos e marginalizados, desde que apreciem sua visão de mundo – quem não concorda é considerado inimigo.
Enquanto suas ideias circulam e alcançam a consciência coletiva, assume posição crítica sobre o estado de coisas, apontando defeitos em tudo, sem apresentar soluções; e dissemina o ódio para causar rupturas no tecido social, dividindo para conquistar. Seu código de conduta não comporta o compromisso com os valores burgueses e, por isso, ética, moral, respeito e coerência, p. ex., não são comportamentos encontráveis em seu repertório, salvo se necessários à sua causa.
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A esquerda é mundialmente articulada, e por isso esmaga a oposição, geralmente mais individualista. Porém, sua militância também foi vítima da mitigação da inteligência que promoveu, e os intelectuais orgânicos já não são tão sedutores em seu discurso, nem tão hábeis na confrontação. Assim, verificados pequenos retrocessos na marcha contínua para a revolução, a tendência da classe dirigente é mudar o tom, e agir estrategicamente, adotando expedientes bolcheviques (ala mais radical), como confronto físico, assassinato de reputação, ataque e perseguição ao oponente ou espantalhos dele, assédio pela via judicial ou constrangimento em sua vida privada. Ao mesmo tempo, tenta manter a hegemonia no poder através da articulação política.
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Fidel Castro, Hugo Chávez e Lula da Silva, criaram o Foro de São Paulo para viabilizar o projeto da Pátria Grande latino-americana. A organização orquestrou a tomada do poder pelos comunistas nos países latino-americanos, para ao final fundi-los num só. Os grandes investimentos necessários foram realizados principalmente com dinheiro das Farcs, da Venezuela (PDVSA) e do Brasil (Petrobras).
O Foro foi vitorioso em países como Argentina, Bolívia, Honduras, Uruguai e Chile, e no Brasil não foi diferente. Só que fomos além, e em razão da irmandade internacional, nossos “representantes” firmaram acordos com países de economia (obscura) planificada, e concederam empréstimos a ditadores esquerdistas do terceiro mundo (América Latina, África e Oriente Médio).
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A esquerda comeu pelas beiradas, infiltrou-se nas instituições até dominar o cenário político, e reinar absoluta para se eternizar no topo do poder. Mas, por obra do acaso, a imensa máquina revolucionária sofreu reveses, com os escândalos do Mensalão (compra de votos), ainda no Governo Lula, e do Petrolão (desvio de dinheiro público).
A corrupção sempre existiu no Brasil, sendo tolerada em razão do: “não há jeito, vai ser sempre assim”. Mas a magnanimidade do projeto lulopetista a elevou a níveis insuportáveis, como comprovaram os escândalos acima referenciados. E dizem que dois ainda maiores vêm por aí: o Eletrolão e o BNDESão. Resta-nos esperar.
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Em 2013, a esquerda (titular histórica da mobilização das ruas) organizou manifestações para causar instabilidade social, e incitando a sociedade a exigir uma atuação mais incisiva do Estado contra as arruaças promovidas por criminosos ligados a esses próprios movimentos, o que fatalmente levaria a uma ditadura. Porém, não apenas os membros dessa “sociedade organizada” saíram às ruas. Revoltada com os desmandos do lulopetismo, a população aderiu, fazendo surgirem pautas distintas das previamente combinadas. O tiro saiu pela culatra, e os manifestantes profissionais acabaram expulsos do bololô, com bandeiras e camisas de partidos – e gritos ensaiados. Mas não houve muita demora na rearticulação, e, com as instituições praticamente dominadas, o governo resolveu novamente atacar, publicando o Decreto nº 8.243/2014, que pretendia tirar o poder das mãos dos representantes eleitos e repassá-lo às “organizações da sociedade civil”, espécies de comitês bolivarianos (em regra, grupos da militância esquerdista).
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Na desonesta campanha de reeleição de Dilma Roussef, a parte desarticulada da população continuava nas ruas enfrentando a organização criminosa estabelecida no poder constituído. Aderiu à campanha de Aécio Neves, sabidamente membro da outra “perna” (da estratégia) das tesouras, mas era “o que tinha pra hoje”. A eleição, com urnas fraudáveis e contagem secreta de votos, foi liderada por um ex-advogado do PT, informação suficiente para bons entendedores.
A Operação Lava Jato prosseguia, investigando a parasitagem na Petrobras e revelando a relação promíscua entre o público e o privado. Apresentada uma conta parcial, a elite política parecia acusar o golpe. A sociedade via uma luz, e as manifestações deveriam ter continuado, para aproveitar o ambiente revolucionário das ruas – a possível primavera brasileira, como disse Olavo de Carvalho. Mas a habilidade das velhas raposas do PSDB e do (hoje) MDB arrefeceu os ânimos, com o auxílio dos fieis escudeiros da mídia, que elegeu um grupo de jovens ambiciosos como o responsável pelas manifestações, grupo que logo foi cooptado, para ocupar o espaço da direita permitida e atrair para si, de forma oportunista, o protagonismo do impeachment de Dilma.
Houve um saldo relativamente positivo no campo cultural: para muitos foi o fim da inocência, da “era da falácia”. O mito Lula, o ungido dos infames e idiotizados, revelou seus pés de barro: não conseguiu o foro privilegiado oferecido ainda no governo Dilma; foi condenado num dos processos a que responde na esfera criminal; e é incapaz de mobilizar sua outrora pujante militância, mostrando que o engajamento era comprado. Mais: veio à tona que o partido “dono da ética” e solução dos problemas, manteve-se no poder à custa de mentiras, e mergulhou o país em anos de escuridão ao sangrar os cofres públicos, corromper pessoas, dividir a nação e disseminar o ódio. Como resultado, foi surrado nas urnas e sofreu enorme debandada de afiliados.
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Dilma foi escolhida para aplacar a sede de justiça da população, mas caiu de pé: sequer ficou inelegível, nem foi investigada pelos desmandos na diretoria da Petrobras, no ministério de Lula e na Presidência, apesar da perda do foro privilegiado. Autoridades foram presas e logo liberadas; e só quem puxa prisão considerável é Eduardo Cunha que, junto a Jair Bolsonaro, foi citado no nº 157 do Caderno de Teses do 5º Congresso Nacional do PT, que inicia com a seguinte frase: “um partido para tempos de guerra”. (Embora corrupto, Cunha é odiado, “xingado” de conservador e considerado inimigo por atravancar pautas progressistas no exercício da Presidência da Câmara dos Deputados.)
O PT não foi extinto, a prisão de Lula ainda é esperada, e apenas problemas incontornáveis poderão justificar a realização dos conhecidos expurgos dos revolucionários – espécie de reciclagem que garante a continuidade no poder quando algo dá errado. Se isso se dará através da eliminação física ou da morte política, é mais difícil precisar.
O mais fácil é acontecer uma grande mudança na forma de conduzir a política, com falsas reformas, p. ex., para tudo continuar como antes. Apesar de as investigações terem chegado perto, os verdadeiros donos do poder, se muito, sofreram pequenos abalos perto do tsunami ocorrido, prevalecendo o famoso acordão proposto por Romero Jucá para enterrar a Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.
Não se sabe se Lula será preso ou não, mas Aécio Neves, Michel Temer, Moreira Franco, Renan Calheiros, José Sarney, José Serra, Aloysio Nunes e o próprio Jucá, entre outros, estão livres, leves e soltos, beneficiando-se da lentidão das cúpulas do Judiciário e do Ministério Público Federal. Isso mostra que as instituições funcionam perfeitamente, do jeitinho previsto pela esquerda desde a redemocratização: transformando gradualmente o Brasil num país socialista, através do aparelhamento do poder e da economia de compadrio, da proteção do poder e dos privilégios, e tolhendo direitos da população.
Os Ministros do STF, através do ativismo, vão cumprindo as pautas progressistas que o Legislativo não aprova, por causa do seu eleitor, que possui caráter conservador. De todos, Gilmar Mendes merece destaque: além de permitir a soltura de diversos criminosos a partir de sua interpretação do ordenamento jurídico; impediu a divulgação das gravações de Joesley Batista em que ele próprio poderia estar comprometido; e, à frente do Tribunal Superior Eleitoral, bateu o pé e não implantou o voto impresso, aprovado por lei, com a finalidade de evitar as fraudes nas eleições. Os outros não ficam para trás.
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Por fim, e em verdade, os tucanos e mdbistas (mencheviques) estão ávidos por abocanhar e lotear os grandes cargos, que por muito tempo ficaram nas mãos de seus irmãos ideológicos mais radicais (bolcheviques). Daí surgirem continuamente progressistas de ficha limpinha a se lançarem na corrida eleitoral, como balões de ensaio, para ver quem derrota o candidato a ser vencido nas eleições presidenciais. No pedigree, constam como liberais. Incensados pela mídia e pela intelectualidade (?) tupiniquim, estão prontos para “lutar pela democracia, pela igualdade e pela liberdade do povo”.


Fernando César Borges Peixoto

Advogado, pós-graduado, niteroiense, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.