“Parabéns, hoje faz 6 meses que não fazemos sexo entre
nós”, dizia a mensagem enviada pelo WhatsApp. 7h56min no relógio, era dia 12
de dezembro.
Ele tinha razão, fazia 6 meses que ela, incompreensível
e desnecessariamente – já que não
faziam sexo há muito tempo –, vestira aquele
corpete caríssimo e a calcinha de fio “mental”, de tão inexistente, para
comemorar (por quê?) o dia dos namorados.
Mirtes e Roberto tinham a exata noção de que não havia
mais nada a acrescentar um ao outro. A relação se mantinha apenas “pro forma”,
e nem sequer sabiam o porquê de ainda dividirem o mesmo teto. Talvez fosse a crise...
Cada um, a seu modo, ia procurando estabelecer um jeito
de caçar o próprio rumo, mas isso não implicava necessariamente a busca de novos
relacionamentos. Pelo menos, nada era feito às escâncaras, pois havia o respeito,
ainda que seguro por uma linha muito tênue.
Não puderam fazer muita coisa para evitar o fim. Simplesmente
chegara o momento em que tudo se resumia a isso: ela achava que ele entregava
muito pouco, e ele achava que ela não entregava nada, que ela exigia dele coisas
que não tinha condições de bancar. Afinal de contas, quem não dá nada, não pode
exigir coisa alguma.
Em verdade, estavam tão anestesiados que nem discutiam
mais; apenas se limitavam a dar razão ao parceiro. Resignados, haviam percebido
que não passavam de um espectro, um na vida do outro. Era como se vivessem em dimensões
diferentes, imperceptíveis, sem interferir, sem somar; o vazio...
***
***
À noite, não houve um ai sequer sobre a mensagem tola
enviada no início do dia. Era uma quinta-feira, dia morto para ambos. Não havia
o drink com amigos, ou o cinema do grupo.
Na hora do jantar, ele abriu um vinho e disse,
tranquilamente, que no fim de semana estaria saindo de sua vida para nunca mais
voltar. Foi aí que ela percebeu que a mensagem tinha sido uma espécie de “foda-se”
menos agressivo.
Ele se alongou, sem precisar, dizendo que as “crianças”
já estavam encaminhadas na vida, e a presença dos pais em conjunto não se fazia
tão necessária.
Não houve choro, nem vela acesa. Nada se discutiu ou perguntou.
Ela disse ok, foi econômica, como era natural entre eles nesses últimos tempos.
Ele escovou os dentes e se acomodou no chão da sala, onde
gostava de dormir. Ela ficou feliz pelos dois. Foi para a cama ler um capítulo
de um livro que tratava de jogos eróticos, e teve um sonho molhado com ele. Com
ele não, com aquele “ele” que ela havia conhecido há 25 anos.
Fernando César Borges Peixoto
Advogado,
niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma,
um saudosista que agora inventou de escrever poesia.