1º Ato.
Feito o pregão, entro na sala de
audiências com o preposto do banco, após dar passagem ao colega e a seu
cliente, um idoso. O conciliador ainda se ajeitava na cadeira, quando me foi
perguntado o valor da proposta.
- Não há proposta, Dr. - respondi ao
advogado.
- O Dr. está de brincadeira comigo? - disse
ele - V. Sª me fez vir aqui à toa?
Retruquei:
- Dr., eu marquei algum encontro com
V. Sª? Sou obrigado a fazer propostas? Cuide do seu trabalho, e eu cuido do
meu.
Uma voz fina e assustada invade o
ambiente:
- Drs., dia 30 de maio, às 14 horas,
está bom?
Era o conciliador, marcando a
audiência de instrução e dispersando o clima ruim.
2º Ato.
Precisando comprar um colchão, fui a
um lugar onde havia duas lojas, uma de cada lado da avenida – uma chique, outra
“plebeia”.
Na loja “não chique”, uma vendedora
enjoadinha me atendeu, e ao pedir para orçar o modelo que gostei, ela indagou a
forma de pagamento e o número do meu CPF. Eu a questionei, e ela disse que era
para eu levar logo, porque não encontraria mais barato. Respondi que não faria
isso, pois era a primeira loja em que entrei.
Com o orçamento, parti para a loja em
frente, onde uma vendedora simpática, bonita e bem vestida me atendeu, deixando-me
à vontade.
- Resolvi ver esse e aquele - eu disse,
depois de passear pela loja.
- Vou fazer o orçamento para o senhor -
respondeu - qual a forma de pagamento?
Nesse momento, a vendedora chata, da
outra loja, chega e me encara, com um sorriso sarcástico. Vai direto falar
(alto) com o gerente, mostrando que as lojas pertenciam ao mesmo proprietário. Faltou
me chamar de otário.
Virei para a simpática vendedora e
disse:
- Moça, não perca seu tempo. Eu
agradeço a atenção, mas você perdeu a venda por causa daquela que entrou, meio
que debochando de mim. Ela me atendeu na loja em frente e disse que eu não encontraria
nada mais barato quando falei que ia procurar outros orçamentos. Então, veio aqui
atrás de mim, para me afrontar. Boa tarde!
Elas que se acertassem por lá.
3º Ato.
Acabei de almoçar e voltei andando para
o escritório. Cheguei ao hall do prédio e o elevador de serviço estava
bloqueado por alguém que carregava um material. Apertei o botão do outro e
aguardei.
Chegou um senhor e, logo em seguida,
um rapaz, que já foi perguntando se não entraríamos no elevador parado. Em voz
alta, questionou o motivo de estar parado, ao mesmo tempo em que retirava o
objeto que segurava a porta, dizendo que precisava subir. Era uma “marra” dos
diabos, e um alvoroço danado por pouco.
Pensei o porquê da figura “chegar
chegando”, inconvenientemente, com tanta arrogância.
Ao ouvir aquele furdunço, veio o
porteiro, esbaforido, dizer, para mim, que ia liberar o elevador. Eu respondi
que não havia a menor necessidade, pois enquanto o apressadinho já estava
instalado no elevador de serviço - “péin” - soou a campainha e a porta do social
se abriu.
Eu entrei, o senhor veio atrás, e o
porteiro teve que avisar ao zé ruela que o outro elevador havia chegado. Ele saiu
de um, entrou no outro e não apertou o botão...
Saltou no mesmo andar que eu. Era
cliente do dentista que atende ao lado de minha sala. Não, ele não era o dono
do mundo, não era sequer proprietário ou inquilino de uma das salas do
edifício.
*
* *
Meus pais diziam que gente assim “tem
o rei na barriga”. Já na minha juventude, eu chamava de escroto mesmo.
Deve haver várias explicações para comportamentos
assim, mas, como não estou nem aí para isso, quero mais é que essas pessoas se
phodam.
Elas deixam o convívio em sociedade
mais estressante, e servem de exemplo para o aprendizado de uns e de tema das mais
variadas discussões para outros. Bom mesmo é que causam regozijo
àqueles que possuem senso de ridículo, e a certeza de que tiveram uma boa
educação.
Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.
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