O “intelectual” progressista, titular do monopólio das virtudes e do
discurso humanista, defensor das causas dos oprimidos, por longo tempo
tripudiou dos adversários, que nunca estiveram à altura, fosse por covardia ou
despreparo. Mas algo mudou, e apesar de terem o contraditório ainda censurado, os
adversários estão saindo da espiral do silêncio e, mesmo de forma tímida e confusa,
seguem rechaçando falsas narrativas e tentando estabelecer um debate lógico e
racional.
* * *
O revolucionário deseja o poder, seja tomando de assalto ou de forma
sutil e “democrática”, pelo aparelhamento das instituições. Ele crê ser
possível criar uma nova civilização perfeita, mas isso depende do máximo de
adesão daqueles que viverão nesse paraíso terrestre. Então, lança mão de um discurso
falacioso para conquistar corações e mentes (ou corações dementes), assumindo
tal regime como o único capaz de realizar valores (abstratos e de fácil
manipulação semântica) como igualdade, liberdade, paz e justiça social. Além
disso, afeta preocupação com pobres, oprimidos e marginalizados, desde que apreciem sua visão de mundo – quem não concorda é
considerado inimigo.
Enquanto suas ideias circulam e alcançam a consciência coletiva,
assume posição crítica sobre o estado de coisas, apontando defeitos em tudo,
sem apresentar soluções; e dissemina o ódio para causar rupturas no tecido
social, dividindo para conquistar. Seu código de conduta não comporta o compromisso com os valores burgueses e, por isso, ética, moral, respeito e coerência, p. ex.,
não são comportamentos encontráveis em seu repertório, salvo se necessários à
sua causa.
* * *
A esquerda é mundialmente articulada, e por
isso esmaga a oposição, geralmente mais individualista. Porém, sua militância
também foi vítima da mitigação da inteligência que promoveu, e os intelectuais orgânicos
já não são tão sedutores em seu discurso, nem tão hábeis na confrontação. Assim, verificados pequenos retrocessos na marcha contínua
para a revolução, a tendência da classe dirigente é mudar o tom, e agir estrategicamente,
adotando expedientes bolcheviques (ala mais radical), como confronto físico,
assassinato de reputação, ataque e perseguição ao oponente ou espantalhos dele,
assédio pela via judicial ou constrangimento em sua vida privada. Ao mesmo tempo,
tenta manter a hegemonia no poder através da articulação política.
* * *
Fidel Castro, Hugo Chávez e Lula da Silva, criaram o Foro de São
Paulo para viabilizar o projeto da Pátria Grande latino-americana. A
organização orquestrou a tomada do poder pelos comunistas nos países
latino-americanos, para ao final fundi-los num só. Os grandes investimentos necessários
foram realizados principalmente com dinheiro das Farcs, da Venezuela (PDVSA) e do Brasil (Petrobras).
O Foro foi vitorioso em países como Argentina, Bolívia, Honduras,
Uruguai e Chile, e no Brasil não foi diferente. Só que fomos além, e em razão da
irmandade internacional, nossos “representantes” firmaram acordos com países de
economia (obscura) planificada, e concederam empréstimos a ditadores esquerdistas
do terceiro mundo (América Latina, África e Oriente Médio).
* * *
A esquerda comeu pelas
beiradas, infiltrou-se nas instituições até dominar o cenário político, e reinar
absoluta para se eternizar no topo do poder. Mas, por obra do acaso, a
imensa máquina revolucionária sofreu reveses, com os escândalos do Mensalão (compra
de votos), ainda no Governo Lula, e do Petrolão (desvio de dinheiro público).
A corrupção sempre existiu no Brasil, sendo tolerada em razão do:
“não há jeito, vai ser sempre assim”. Mas a magnanimidade do projeto lulopetista
a elevou a níveis insuportáveis, como comprovaram os escândalos acima referenciados.
E dizem que dois ainda maiores vêm por aí: o Eletrolão e o BNDESão. Resta-nos
esperar.
* * *
Em 2013, a esquerda (titular histórica da mobilização das ruas) organizou
manifestações para causar instabilidade social, e incitando a sociedade a exigir
uma atuação mais incisiva do Estado contra as arruaças promovidas por
criminosos ligados a esses próprios movimentos, o que fatalmente levaria a uma
ditadura. Porém, não apenas os membros dessa “sociedade organizada” saíram às
ruas. Revoltada com os desmandos do lulopetismo, a população aderiu, fazendo surgirem
pautas distintas das previamente combinadas. O tiro saiu pela culatra, e os
manifestantes profissionais acabaram expulsos do bololô, com bandeiras e
camisas de partidos – e gritos ensaiados. Mas não houve muita demora na rearticulação, e, com as instituições praticamente dominadas, o governo resolveu novamente atacar, publicando o Decreto nº 8.243/2014, que pretendia tirar o poder das mãos dos representantes eleitos e repassá-lo às “organizações da sociedade civil”, espécies de comitês bolivarianos (em regra, grupos da militância esquerdista).
* * *
Na desonesta campanha de reeleição de Dilma Roussef, a parte desarticulada
da população continuava nas ruas enfrentando a organização criminosa estabelecida
no poder constituído. Aderiu à campanha de Aécio Neves, sabidamente membro da
outra “perna” (da estratégia) das tesouras, mas era “o que tinha pra hoje”. A
eleição, com urnas fraudáveis e contagem secreta de votos, foi liderada por um
ex-advogado do PT, informação suficiente para bons entendedores.
A Operação Lava Jato prosseguia, investigando a parasitagem na Petrobras
e revelando a relação promíscua entre o público e o privado. Apresentada uma conta
parcial, a elite política parecia acusar o golpe. A sociedade via uma luz, e as
manifestações deveriam ter continuado, para aproveitar o ambiente
revolucionário das ruas – a possível primavera brasileira, como disse Olavo de
Carvalho. Mas a habilidade das velhas raposas do PSDB e do (hoje) MDB arrefeceu
os ânimos, com o auxílio dos fieis escudeiros da mídia, que elegeu um grupo de
jovens ambiciosos como o responsável pelas manifestações, grupo que logo foi cooptado,
para ocupar o espaço da direita permitida e atrair para si, de forma oportunista,
o protagonismo do impeachment de Dilma.
Houve um saldo relativamente positivo no campo cultural: para
muitos foi o fim da inocência, da “era da falácia”. O mito Lula, o ungido dos
infames e idiotizados, revelou seus pés de barro: não conseguiu o foro
privilegiado oferecido ainda no governo Dilma; foi condenado num dos processos a que responde na esfera criminal; e é incapaz de mobilizar sua outrora pujante militância, mostrando
que o engajamento era comprado. Mais: veio à tona que o partido “dono da ética”
e solução dos problemas, manteve-se no poder à custa de mentiras, e mergulhou o
país em anos de escuridão ao sangrar os cofres públicos, corromper pessoas,
dividir a nação e disseminar o ódio. Como resultado, foi surrado nas urnas e sofreu
enorme debandada de afiliados.
* * *
Dilma foi escolhida para aplacar a sede de justiça da população, mas
caiu de pé: sequer ficou inelegível, nem foi investigada pelos desmandos na diretoria
da Petrobras, no ministério de Lula e na Presidência, apesar da perda do foro
privilegiado. Autoridades foram presas e logo liberadas; e só quem puxa prisão
considerável é Eduardo Cunha que, junto a Jair Bolsonaro, foi citado no nº 157
do Caderno de Teses do 5º Congresso Nacional do PT, que inicia com a seguinte
frase: “um partido para tempos de guerra”. (Embora corrupto, Cunha é odiado, “xingado”
de conservador e considerado inimigo por atravancar pautas progressistas no
exercício da Presidência da Câmara dos Deputados.)
O PT não foi extinto, a prisão de Lula ainda é esperada, e apenas
problemas incontornáveis poderão justificar a realização dos conhecidos expurgos
dos revolucionários – espécie de reciclagem que garante a continuidade no poder
quando algo dá errado. Se isso se dará através da eliminação física ou da morte
política, é mais difícil precisar.
O mais fácil é acontecer uma grande mudança na forma de conduzir a
política, com falsas reformas, p. ex., para tudo continuar como antes. Apesar de
as investigações terem chegado perto, os verdadeiros donos do poder, se muito, sofreram
pequenos abalos perto do tsunami ocorrido, prevalecendo o famoso acordão proposto
por Romero Jucá para enterrar a Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.
Não se sabe se Lula será preso ou não, mas Aécio Neves, Michel
Temer, Moreira Franco, Renan Calheiros, José Sarney, José Serra, Aloysio Nunes
e o próprio Jucá, entre outros, estão livres, leves e soltos, beneficiando-se da
lentidão das cúpulas do Judiciário e do Ministério Público Federal. Isso mostra
que as instituições funcionam perfeitamente, do jeitinho previsto pela esquerda
desde a redemocratização: transformando gradualmente o Brasil num país socialista,
através do aparelhamento do poder e da economia de compadrio, da proteção do poder
e dos privilégios, e tolhendo direitos da população.
Os Ministros do STF, através do ativismo, vão cumprindo as pautas
progressistas que o Legislativo não aprova, por causa do seu eleitor, que possui
caráter conservador. De todos, Gilmar Mendes merece destaque: além de permitir a
soltura de diversos criminosos a partir de sua interpretação do ordenamento jurídico;
impediu a divulgação das gravações de Joesley Batista em que ele próprio poderia
estar comprometido; e, à frente do Tribunal Superior Eleitoral, bateu o pé e
não implantou o voto impresso, aprovado por lei, com a finalidade de evitar as
fraudes nas eleições. Os outros não ficam para trás.
* * *
Por fim, e em verdade, os tucanos e mdbistas (mencheviques) estão ávidos
por abocanhar e lotear os grandes cargos, que por muito tempo ficaram nas mãos
de seus irmãos ideológicos mais radicais (bolcheviques). Daí surgirem continuamente
progressistas de ficha limpinha a se lançarem na corrida eleitoral, como balões
de ensaio, para ver quem derrota o candidato a ser vencido nas eleições
presidenciais. No pedigree, constam como liberais. Incensados pela mídia e pela
intelectualidade (?) tupiniquim, estão prontos para “lutar pela democracia, pela
igualdade e pela liberdade do povo”.
Fernando César Borges Peixoto
Advogado,
pós-graduado, niteroiense, gosta de escrever e, de certa forma, é um
saudosista.
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