(I) Motivação
ATENÇÃO! Pode
conter spoiler. Não leia se não quiser saber de fatos da série que retrata a
Operação Lava Jato.
Meu interesse em
tratar da série “O Mecanismo” vem do assombro de ver/ouvir pessoas misturando
ficção e realidade na análise de fatos cotidianos. Quem nunca ouviu que a vida
imita a arte com algo como: “é igual à novela; o traficante possui mais consciência social que o dono
da fábrica”; ou “é igual à novela; a menina ama o namorado e outro rapaz. Se o
namorado gosta dela, tem que aceitar dividir”.
Através de engenharia
social, a mídia (e não só ela) manipulou por anos e anos um público sem outras
opções de diversão, transformando seu agir e seu pensar, promovendo
mudanças comportamentais tão
profundas que muitos já não enxergam os absurdos e as contradições que cometem
e defendem.
A cada dia são
apresentados e incentivados comportamentos e tendências contrários aos valores
fundamentais da nossa civilização, e pouca gente nota. Foi assim com a
legalização do divórcio, a mundanização do sagrado pela teologia da libertação,
a ridicularização do cristianismo, o “casamento” entre gays, o sistema de
cotas, a ideologia de gênero, o direito à identidade social... Já estão quase
conseguindo aprovar o homicídio de crianças no ventre materno (aborto) e estão
nos preparando para aceitar (e depois também impor, como nas situações citadas) o estupro de vulneráveis
(pedofilia) e o incesto. Esses temas já entraram no radar, foram deslocados do
"setor de assuntos sequer consideráveis para discussões acerca de costume
e doença. O próximo passo será a imposição da aceitação, sob pena de persecução
penal e punição. É isso o que está previsto na Janela de Overton (ou janela do
discurso).
Mas, e o seriado?
É preciso esclarecer
algumas coisas antes de continuar essa breve análise. Peço paciência àquele que
queira me acompanhar.
Padilha dá sempre um
jeito de inserir sua visão utópica de mundo nos filmes em que trata da dinâmica
do povo brasileiro (só assisti a esses, sorry!).
Em Tropa de Elite,
vemos jovens viciados pacíficos que defendem a liberação de drogas e advogam
sobre a conscientização social de criminosos, que são benfeitores das favelas;
já do lado das milícias, elas são formadas por policiais da ativa e da reserva,
que apenas praticam violência e exploram os moradores das localidades em que
reinam. Não os trata como são: criminosos, assim como os traficantes.
O policial honesto é
violento, desrespeita as leis que protegem a integridade física alheia
(tortura, homicídio etc.), enquanto o deputado consciente e humanista de
esquerda, que (tá certo - ele admite -, fuma a inofensiva maconha de forma
recreativa, mas) põe sua vida em risco para defender presos, é quem abala as
estruturas do “sistema” – embora esse sistema sempre se reorganize.
Dá para perceber a
diferença no enfoque? Dá para perceber a similitude com aquilo o que se pensa
de Marcelo Freixo, o político queridinho da esquerda caviar?
(II)
O seriado da Netflix
estreou causando rebuliço nas redes sociais, desagradando a pessoas de
posicionamento político à esquerda e à “direita”. O protagonista, Selton Melo,
no The Noite de Danilo Gentile, chegou a afirmar que o enredo puxa a brasa para
ambos os lados, o que pode ser o motivo das reclamações.
Entretanto, àqueles
que vão assistir, aconselho que tenham duas coisas em mente. A primeira é que,
embora nomes, datas e fatos estejam muito próximos da realidade política
recente de nosso país, é uma obra ficcional, baseada no livro de Vladimir Netto
sobre a Operação Lava Jato. Importante saber que Vladimir Netto é filho de
Míriam Leitão, a Amélia que lutou junto aos terroristas que tentaram instaurar
uma ditadura do proletariado no Brasil nas décadas de sessenta e setenta do
século XX.
A segunda, é que o
Padilha é um esquerdista talentoso. Ao falar isso, quero lembrar que, antes de
talentoso, ele é esquerdista; e como todo esquerdista, ele manipula e
desinforma enquanto mescla verdades e mentiras.
(III)
Não é difícil
perceber que o seriado adotou a narrativa da esquerda, e utiliza a linguagem da
esquerda. Vejamos:
1) Janete foi
reeleita “presidenta” da república derrotando o candidato Lúcio Lemes, que
pertence a um partido de “direita”. Sim, o PSDB é tratado como partido de
direita – nada mais clichê;
2) O
“vice-presidento”, Samuel Thames, trama com Lúcio Lemes um “golpe” para a tomar
o poder e conter a operação que pode expor o esquema (“mecanismo”) de corrupção
que vai atingir os donos do poder, toda a cúpula da política nacional, que está
presente nos mais variados partidos;
3) Janete se nega
a utilizar a máquina do governo para abafar a operação policial;
4) O ato de “bater
panela” quando corruptos petistas apareciam em rede nacional foi tratado com
menosprezo;
5) Afirma-se
que a corrupção independe
de ideologia – é ambidestra, praticada pela direita e pela esquerda. Isso é
verdade na medida em que políticos considerados de direita (considerados!)
também tinham um preço. Mas não é verdade fazer essa equivalência em meio à
narrativa do maior esquema de corrupção já existente no mundo, ampliado de
forma incomensurável no período do lulo-petismo (incluam-se os mandatos de
Dilma). A série repete o estelionato intelectual praticado por um “pensador” da
esquerda que relativiza os crimes ao dizer que quem fura a fila do pão é tão
corrupto quanto quem desvia bilhões de reais de dinheiro público e apresenta a
conta para a sociedade pagar.
(IV)
O enredo trata das
“instituições podres”, do “sistema” que se retroalimenta e é impossível ser
parado porque independentemente da ideologia política em vigência ele irá
funcionar... Já ouvimos isso da boca do capitão Nascimento, ouvimos agora do
delegado Marco Ruffo. Ah! Ambos enfrentam sérios problemas com as esposas, em
razão da entrega à função que desempenham. A ficção de Padilha insiste em
afirmar que quem exerce cargos de chefia nas polícias, e com tendências a
virarem heróis, é uma pessoa infeliz e violenta.
Agora trato da
queimadinha de filme no Juiz e nos membros do Ministério Público e da polícia.
6) A polícia
abriga um agente desequilibrado que usa o aparato policial para perseguir,
abusando de ilegalidades, um desafeto seu. Mais tarde, seus colegas também
cometerão irregularidades ao permitirem que ele se imiscua no meio policial
após ter sido aposentado. Há, ainda, policiais relapsos, como retratam as cenas
que envolvem a campanha de vigilância do doleiro e a busca e apreensão no
escritório do diretor da Petrobrasil;
7) Os membros do
Ministério Público são retratados como ingênuos, facilmente manipuláveis, e
indefesos diante de gente importante e profissional. Há uma guerra de egos
entre a Delegada e um Procurador da República retratado como vaidoso e
individualista, que apresenta desde acusações de sabotagem involuntária das
investigações até ceninhas de afetação durante uma entrevista, na qual um quer
sobressair em relação ao outro;
8) O Juiz Paulo
Rigo, da 1ª Instância, responsável pela operação, é retratado como um homem que
faz sexo de meias e é extremamente vaidoso, a ponto de alterar a assinatura a
partir de uma abordagem na rua, quando alguém pede um autógrafo (seu primeiro)
numa edição de jornal.
(V) – Encerrando as
impressões sobre a 1ª temporada
9) O Dr. Mário Garcez Britto, o “Mago” (ou “Bruxo”), é alguém com cacife para costurar um
acordo que salve a pele de empreiteiros e políticos. O fato de ter sido
Ministro da Justiça de Lula é comentado, mas não explorado. O que importa é que
ele atua para livrar o empresariado da cadeia, essa gente inescrupulosa, que
corrompe políticos há décadas. Foram mostradas reuniões do grupo dos
empreiteiros, mas nenhuma entre políticos tratando da divisão do butim
conquistado com os contratos fraudados. Cadê a análise da participação desses
políticos nesse esquema?
OBS.: A personagem
representa Márcio Thomaz Bastos (o “God”), advogado criminalista e ex-Ministro
da Justiça que deixou a fortuna de 393 milhões de reais a serem divididos entre
seus herdeiros. O homem que participou do “governo do povo” de Lula pertencia à
elite do país, a mesma elite que Lula trata como inimiga sua e do “povo”, e
contraditoriamente alimenta com dinheiro público para criar campeõs nacionais e
com quem mantém relações negociais. Não houve qualquer referência a isso
também.
10) Enquanto o
“Mago” alinhavava um acordo com o chefe do Ministério Público Federal em Brasília, os advogados das
empreiteiras se reuniam com os procuradores de Curitiba para propor um acordo e
encerrar a operação. Um dos advogados diz algo como: É um acordo para
"zerar" a corrupção, como é feito nos Estados Unidos. As empresas
pagam, comprometem-se a não cometer novos crimes e tudo fica bem. Ninguém é
preso.
Particularmente, eu
acho difícil que um acordo que envolva crime de corrupção nos EEUU livre alguém de
puxar uma cana, mas...
Padilha vive agora
nesses mesmos EEUU que critica, o que chega a ser engraçado. Apesar de bastante
simpático ao partido de Freixo - que prega o desarmamento da população, ruas
iluminadas e bandidos fora das prisões como forma de combater a criminalidade e
a violência -,
após sofrer com violência no Rio de Janeiro ele se mudou para onde as leis
e o Judiciário são mais rígidos.
De
outro lado, “acordo para zerar a corrupção, como nos EEUU” é uma nova
generalização tipicamente esquerdista: o grau de nocividade de cada crime
isoladamente é desconsiderado. A corrupção é palavra avulsa, sem sentido
quando não se personaliza as figuras do corruptor e do corrompido. Na prática,
torna mais fácil livrar a cara do criminoso “amigo”. Causa-se, com isso, o
mesmo efeito que as bandeiras: “precisamos combater a impunidade
/violência”, “precisamos lutar pela paz / liberdade / igualdade”...
Mas
não é em todo lugar do mundo que as coisas funcionam assim, com essa percepção
de generalização. Nem em algumas de nossas instituições, em que algumas
situações individuais, dependendo de quem está envolvido, cria uma solução
individual.
Pense!
Fernando César Borges Peixoto
Advogado, pós-graduado, niteroiense, gosta de
escrever e, de certa forma, é um saudosista.
Excelente reflexão sobre a série, já havia percebido a sutileza de como Padilha costura os fatos, mas depois de ler o blog consegui perceber que aquele ponto ou outro que "força a barra" na série tem o condão de puxar pra esquerda. Sutil e inteligente, porém para o mal. Os desavisados e aqueles com pouco senso crítico ou que não costumam fazer uma releitura é que serão atingidos. É aquela velha máxima: "uma história contada diversas vezes, acaba virando verdade", essa é a mesma estratégia do PT e dos outros partidos satélites ditos de esquerda. Fiquemos alerta!
ResponderExcluirApenas hoje eu li esse comentário. Agradeço muito. Fiz pequenas correções no texto, que apresentava algumas incorreções da língua, mas o conteúdo continua presente. Obrigado e abraços.
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