O primeiro turno das eleições de 2016,
as primeiras pós-impeachment de Dilma Roussef e depois de serem escancaradas as
ramificações do maior esquema de corrupção já montado no Brasil – quiçá no
mundo, em todos os tempos –, serviu para dar muitas lições aos políticos, mas
principalmente, ao eleitorado.
O mesmo eleitorado que havia dado um
recado tímido nas eleições de 2014, pois, a despeito da desconfiança de urnas
fraudáveis e apuração inexplicavelmente sigilosa, Dilma permaneceu no poder. Contudo,
de certa forma foram exigidas mudanças, para desespero do deputado (não se sabe
por que reeleito) Jean Wyllys, que dizia que foi eleita a bancada mais
conservadora dos últimos tempos no Congresso Nacional. Quem dera fosse verdade.
O brasileiro, que estudos apontam que
possui um perfil conservador, há muito tempo havia entrado em espiral do
silêncio, mas veio acordando aos poucos, até que resolveu colocar a boca no
trombone.
Foi às manifestações de rua, mas negou
ser manipulado por partidos da esquerda radical, sempre protagonistas nessas
atividades. Políticos não eram bem vindos.
Tendências do espectro da direita
começaram a se reunir – ainda que de forma rudimentar – e foram lutar pelo que
acham justo. Precisavam colocar para fora aquilo que há anos estava calado em
razão da predominância do marxismo cultural. Foram exigidas mudanças, mas não mudanças
contornáveis, dirigidas pela esquerda com vistas a garantir a estratégia das
tesouras. Exigiu-se a abertura do mercado, a diminuição do controle estatal,
maior liberdade econômica...
Isso acabou gerando uma confusão que
ainda não foi controlada. Vários monstros foram criados, pois, logicamente, há
pensamentos díspares, como o conservador, o liberal, libertário (ancap) e
intervencionista, que possuem pautas políticas muito distintas, por vezes
antagônicas, sendo comum que liberais e libertários defendam pautas da esquerda,
colaborando e fortalecendo aquele projeto organizado.
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Apesar de ainda haver o segundo turno
em muitos Municípios, é possível destacar alguns exemplos emblemáticos que
podem explicar toda essa barafunda em que se transformou a política brasileira.
Antes, porém, é bom lembrar que tudo isso vem sendo devidamente estudado pelos
profissionais do ramo, que desde os rumos dados às manifestações de rua
iniciadas em 2013, vêm cooptando alguns deslumbrados, atacando quem não é visto
na “Janela de Overton” da esquerda, e tentando silenciar os focos de resistência
desse projeto que já toma conta do país há décadas.
Com o vácuo deixado pelos afoitos
petistas, a esquerda não baixou a guarda e está pronta para continuar no poder.
De um lado, a ala mais radical, porto de chegada dos que abandonaram o PT porque
o partido “traiu os ideais marxistas”, e suas ideias atrasadas de economia
planejada, vida dura para o trabalhador e vida de luxo para os dirigentes,
repressão a opositores e controle total da mídia. De outro lado, os socialistas
fabianos e seu lento projeto que também suprime a liberdade, impõe mudanças no
ensino, facilita a cooptação de um empresariado “amigo”, distribui poder,
cargos estratégicos e dinheiro público, e conduz a população, aos poucos, para
o marxismo, através de uma sufocante produção legislativa, pilhas e pilhas de
decretos, sem alardes, como ensinou Gramsci.
Veja bem que, chegada a hora, na
cabeça revolucionária só existe a alternância no poder entre as esquerdas.
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Em São Paulo, pela primeira vez na
história, as eleições para Prefeito do Município foi decidida em primeiro turno.
Venceu João Dória Jr., um tucano que disputou contra o candidato à reeleição,
Fernando Haddad (PT), que dispensou o apoio de Lula para não queimar ainda mais
o seu filme torrado. Esse é o primeiro cargo eletivo de Dória.
Duas coisas devem ser faladas aqui,
porém.
Primeiramente, Eduardo Suplicy –
aquele mano que recita Racionais MC’s no Senado Federal, frequenta bailes na
periferia e não deve nada a Tiririca e outros “fenômenos” – foi o vereador mais
votado na capital paulista, com 301.446 votos, referentes a 5,62% do total.
De outro lado, apesar do discurso liberal do vencedor
(e não neoliberal, por favor!), os tucanos comandam o estado há décadas, e os
paulistas não deram trégua nas manifestações. Ademais, foi FHC quem deu o
pontapé inicial para que o país se aprofundasse nesse caos vermelho,
restringindo a ação da população e do empresariado com inúmeras regulações;
restringindo a oferta com suas agências reguladoras; introduzindo normas e
programas voltados para imprimir a liberdade controlada; entregando setores
estratégicos a (poucas) mãos amigas; além do projeto de perpetuação no poder
conduzido por Sérgio Motta, que veio a falecer no decurso do plano.
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Os cidadãos cariocas preferiram votar nos
Marcelos Crivella (PRB) e Freixo (PSOL). Crivella recebeu o apoio de Dilma,
Lula e da família Garotinho, ele é pastor da Igreja Universal, adepto do
lulopetismo e responsável pelo corrupto Ministério da Pesca de Dilma. Marcelo
Freixo, ex-petista, é um alegre, mas nada bobo político de extrema-esquerda,
apoiador dos black blocs, que afirma que os criminosos devem ser combatidos com
iluminação pública, e que a PM deve ser extinta, enquanto utiliza segurança
ostensiva de policiais militares armados. Seu partido prega a ética, mas o
primeiro Prefeito que conseguiu eleger chegou a ser cassado. Essa ética também não
funcionou quando a deputada Janira Rocha desviou criminosamente dinheiro de um
sindicato para uso político (construção do PSOL), nem funcionou quando uma ONG
comandada por Freixo não entregou todo o dinheiro arrecadado para a família do
Amarildo, um morador da Favela da Rocinha que teria sido morto por PMs.
Mas, o que mais impressiona são os
expressivos 42,5% de eleitores que não tiveram seus votos computados, seja por
não comparecerem às urnas, seja porque votaram em branco ou nulo.
Em terceiro lugar chegou Pedro Paulo, candidato
do PMDB de Cabral, Pezão, Eduardo Paes, Eduardo Cunha e dos Picciani; e em
quarto lugar ficou uma aposta, um sangue novo que concorreu contra tudo e
contra todos. Flávio Bolsonaro (PSC) se viu às turras com a imprensa; com os
institutos de pesquisa que sabotaram sua campanha; com toda a esquerda que já
indicou o polegar para baixo decretando a morte política do clã Bolsonaro; e
com a direita que se acha pra caramba e não é nada pragmática quando enfrenta a
esquerda. Para a direita, podia não ser o melhor quadro, não ser o melhor dos
cenários – seu pai é muito ligado à defesa das empresas públicas –, mas era “o
que tinha pra hoje”. Não se sabia se seria ou não uma bomba. Com o que restou
para o segundo turno, há essa certeza.
Dos outros candidatos posicionados
mais ao centro, nenhum abdicou de sua campanha em prol do maior.
E assim, aquela esquerda ultrapassada,
mas organizada, deu novamente um show na “direita”, em especial o grupo que
abraça várias pautas da esquerda. Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molón
(Rede) se fingiram de mortos, orientaram a militância e se garantiram no
tira-teima ao lado de Freixo. Assim, poderão abocanhar os cargos (sempre eles)
já divididos entre os três desde o início da campanha, quando firmaram um pacto
de apoio ao melhor posicionado.
Se no Rio as opções não eram as
melhores, havia as piores. E elas venceram. Nessas ocasiões, deve-se dar o voto
inteligente e não aderir à estúpida campanha de não votar, porque há sempre
alguém que vota, e esse alguém é da esquerda.
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No Espírito Santo, a exemplo de todo o
Brasil, a população também clama por mudanças. Por aqui, haverá segundo turno em
alguns dos principais Municípios: Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica. Mas,
vejamos.
Em Vitória, Amaro Neto (SD) é
apresentador da TV afiliada da Rede Record, que pertence ao Bispo Macedo, que
também é ligado ao PT e ao Crivella. Eleito deputado estadual, já em seu
primeiro mandato topou não cumpri-lo até o final para concorrer à Prefeitura. É
apresentador de um programa sensacionalista da TV, no qual adota um
comportamento por vezes ridículo. Seu opositor, Luciano Rezende (PPS), tenta a
reeleição, é tido como vingativo, centralizador, prepotente e é de um partido que
participou ativamente do Foro de São Paulo.
Em terceiro lugar, ficou Lelo Coimbra
(PMDB), deputado federal que já foi vice-governador e mantém uma forte ligação
com o Governador, também tido como vingativo, centralizador, prepotente etc. Para
saber a vertente do PMDB que está no comando no Espírito Santo, basta dizer que
o partido possui uma história de grande parceria com o PSDB, e que às vezes com
ele se confunde.
Na Serra, os candidatos que vão ao
segundo turno se revezam entre si na gestão do Município há muito tempo. A
disputa se dará entre Sérgio Vidigal (PDT) e Audifax Barcelos (Rede). Uma
particularidade: o segundo já foi vice do primeiro, mas saiu do partido para
“procurar seu espaço” quando os dois brigaram.
Em Vila Velha, haverá disputa entre
Max Filho (PSDB) e Neucimar Fraga (PSD). Ambos já foram Prefeitos no Município.
O pai de Max também foi Prefeito de Vila Velha e Governador do Estado. Neucimar
foi Prefeito por um mandato, perdeu a reeleição e agora volta para disputar o
cargo.
Por fim, em Cariacica, foram ao
segundo turno Juninho (PPS) e Marcelo Santos (PMDB). Juninho está tentando a
reeleição e Marcelo Santos é filho de um ex-Prefeito do Município e político há
20 anos.
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No Maranhão, onde há o maior
percentual de pessoas vivendo na pobreza no Brasil, foram eleitos 46 prefeitos
do PCdoB, um partido de extrema-esquerda que abraça uma linha de pensamento das
mais atrasadas do marxismo.
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Como é possível observar, não há muita
novidade. As mudanças mesmo, aquelas necessárias, ficaram para depois. Se de um
lado o PT perdeu muitos postos, de outro, o destino natural de seus
dissidentes, partidos como PSOL, Rede e PCdoB, conquistaram vários cargos.
É verdade que as opções de candidatos eram,
invariavelmente, o mais do mesmo: um número enorme de alpinistas sociais; de
pessoas que sequer terminaram o ensino fundamental; de mulheres guindadas ao
pleito apenas para fazer cumprir uma quota criada sob o falso pretexto de promover
a igualdade, da falsa luta pela mulher...
Mas, apesar do resultado pouco eficiente,
a população reagiu. Reagiu não indo votar, pois 25 milhões sequer se dirigiram
à seção eleitoral. Segundo Míriam Leitão, é um silêncio que precisa ser ouvido.
Eu acho que é uma tremenda burrice.
Esquerdistas são organizados a ponto
de entregarem seus votos a qualquer um dos seus que estiver mais bem colocado
para não ajudar ao inimigo da direita.
Entenda bem. Como diz Olavo de
Carvalho, eles só brigam entre si por cargos. Fora disso, é apoio mútuo total.
São mais de 150 anos de existência, uma organização a nível mundial, e não vai
ser a ausência do eleitor que está cansado de se iludir com falsas promessas ou
o aluado que acha que o Estado não deve existir, que vai fazer cócegas em sua
carapaça.
Aliás, a campanha que insta a não
votar é gestada na própria esquerda, que desinforma aqueles que não lhes
entregariam o voto de bom grado. E sabendo que a sua militância comparece às
urnas, é mais um passo à vitória. Com isso, os omissos e os anarco-progressistas
fazem bem o jogo da esquerda, abraçando a sua agenda (da esquerda) do caos, ao
permitir que seus candidatos sejam eleitos.
Após saber o resultado das eleições
aqui em Vitória, escrevi na timeline do meu facebook: “O Foro de São Paulo agradece a oportunidade de
um candidato no 2° turno e a grande maioria dos assentados na Câmara dos
Vereadores...”. E entristecido vejo que em Niterói, minha cidade natal, o
resultado é muito próximo.
Toda a esquerda sabia que o PT se tornou um
projeto inviável, e que agora chegou o momento de outros partidos assumirem. É
assim que eles enxergam a política. Veja que a imprensa já assumiu o comando da
narrativa e voltou a falar da polarização PT vs. PSDB nas eleições para a
Presidência em 2018... Meu Deus!!!
Logicamente, até lá, o PSOL ou outro partido igualmente radical –
a Rede está começando a dar água – irá substituir o PT, mas o que para eles não pode
acontecer é deixar que essa polarização escape da esquerda e caia no centro ou
na direita. Isso a militância esquerdista não vai permitir, e, para tanto,
conta com a ajuda dos omissos e dos parceiros que abraçam, divulgam e defendem
suas pautas.
Sobre o resultado das eleições, é assim que eu
penso, é assim que eu vejo.
Sobre a direita, todos os que frequentam seu
espectro no campo político (ou pensam que frequentam) têm muito que aprender, e
com a esquerda. Continuar cheio de não me toques só ajudará a fortalecer
aqueles que trabalham diuturnamente buscando um jeito de prejudicar seus
inimigos políticos. O resultado é sabido: escassez de produtos, indústria
sucateada, escravização, repressão e morte.
Fernando
César Borges Peixoto. Advogado, especialista
em Direito Público pela Faculdade de Direito de Vila Velha-ES e em Direito
Civil e Processual Civil pela Faculdade Cândido Mendes de Vitória-ES.
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