No fim de semana, eu e minha mulher trabalhamos num
Encontro de Casais com Cristo, e em determinado momento conversávamos com os
companheiros de equipe, recém-conhecidos, sobre os filhos, quem havia ficado para
tomar conta deles... Coisas do gênero.
Dissemos que os nossos gêmeos estavam sozinhos, pois
já sabem se cuidar – daqui a pouco estarão com 15 anos –, e então perguntaram
se não iríamos a casa ao menos para preparar o almoço. Minha mulher disse que
não seria necessário, e eu complementei, dizendo que a menina, desde novinha, havia
aprendido a se virar na cozinha.
Certo dia, eu e a patroa fomos à feira-livre, em jejum.
íamos comer uns pastéis por lá,
mas, no meio do caminho, eu decidi comer, àquela hora da manhã, ovos caipiras
estrelados, com gema mole, e um arroz fresquinho... E feito pela Dona Nininha,
nossa filha.
A mulher, espantada, perguntou: “você sabe que ela
nunca fez nada no fogão, certo?”
Eu disse que sabia disso, e também que ela, a mãe,
começou a cozinhar bem pequenininha. Além disso, sabia de várias histórias de pessoas
que, com pouca idade, haviam tomado conta de irmãos menores, inclusive
aprontando mamadeiras, papinhas e comidas.
Ela ligou para casa e, com o coração na mão, ensinou
à menina o que fazer. Como prêmio, o resultado ficou muito acima do esperado.
Ao relembrar o caso, pesaroso, comentei com o
pessoal da equipe que hoje em dia ela quase não cozinha mais, e só faz o que lhe
interessa. Falei também que sempre pedimos para nos surpreender ao chegarmos a
casa, com algo gostoso prontinho para comermos, mas nunca surtiu efeito. E
completei, dizendo que, para o pai e a mãe ela não faz, mas, certamente, no dia
em que arranjar um namorado, vai providenciar, de bom grado, vários acepipes para
o bandido...
Minha mãe dizia que a língua é o chicote do rabo. E
é mesmo. Para nossa grata surpresa, após um fim de semana exaustivo, não é que havia
um delicioso bolo de limão, feito para comermos quando retornássemos? Chegamos a postar
a foto no zap da equipe, de tão satisfeitos com nossa menina. E olha que ela já
havia preparado o almoço, deixando apenas a louça para o irmão lavar.
E por que resolvi contar tudo isso?
É porque me fez lembrar um fato ocorrido há muitas e
muitas luas, que passei a narrar para minha esposa.
Era a década de 80.
Três amigos inseparáveis, que zanzavam por tudo
quanto é canto, estavam na casa do mais velho, que exercia certa liderança,
assistindo a filmes alugados numa locadora de fitas VHS. Sua casa era talvez a
única daquele bairro de periferia em que existia um vídeo cassete.
No intervalo, todos desceram para tomar água, e deram
de cara com um monte de tortas alemãs dispostas na geladeira, preparadas pela
irmã dele para o namorado, que era conhecido dos três rapazes.
O generoso irmão passou a mão nas pequenas, e saiu
distribuindo. O gordinho da turma (por Deus!), foi o único a perguntar se não ia
dar merda. O anfitrião respondeu que não, argumentando que ela havia feito um
monte para isso mesmo... Era só não tocar na “grandona”.
Foi a chave. Ninguém pensou duas vezes após a
resposta – um migué danado que não convenceria a ninguém do júri.
E é lógico que deu merda.
Em meio às minhas elucubrações, minha mulher, com o
cenho fechado, bronqueou: “Siiimm! Ela, uma adolescente, com namorado, fez um
monte de tortinhas para os amigos do irmão? Sei! Se fosse comigo...”
Tenho certeza que foi uma reprimenda preventiva, já
pensando em vetar qualquer investida minha contra acepipes que minha filha, no
futuro, venha a preparar para o bandido, quer dizer, namorado.
É só não fazer tortinhas alemãs...
Fernando César Borges Peixoto
Advogado,
niteroiense, metido a escrever algumas coisas e, até certo ponto, um saudosista.
Amei!
ResponderExcluir