Passava
das cinco e meia da matina e o céu começava a clarear. Saindo do Barzinho Camarotland,
com música ao vivo, rapazes de classe média baixa, com renda familiar mensal em
torno de dois mil cruzeiros, reais... Sei lá!
Gastaram
todo o dinheiro que podiam gastar num mês naquela noitada. E olha que antes haviam
passado no Boteco do Augusto e, além de racharem um x-tudo, encheram o fole com
a cerva baixa renda, que botaram no pendura. Era um “belo negócio”: tomar a cerveja
mais barata e uma semana depois pagar o preço da mais cara.
Estavam
em sete, e teriam que caber num Chevette TS, que tinha uma sonzeira com equalizador
e tudo. Não havia meninas. Elas não queriam os duros que saíam em sete num Chevettinho.
Iam sentar aonde? Ficar penduradas do lado de fora, no teto?
No
caminho para o estacionamento, o mais lúcido lembrou:
-
Alguém tem o dinheiro do flanelinha? Hoje quem está vigiando é aquele das
muletas...
- Não.
- Eu também não.
Alguém
disparou:
-
Vamos mijar. Estou apertadão!
Acabou a discussão. Lógico.
Aliviar no meio do mato é o suficiente para resolver problemas com flanelinhas durões. Até parece!
O motorista,
antes de entrar no mato, abriu as portas e o porta-malas do seu carro, ligou a
sonzeira e meteu logo a fita cassete do Barão.
O dia
clareava ainda mais...
Acabava
de tocar Só as mães são felizes enquanto as últimas gotas caíam no chão – o
resto era da calça, da cueca, do sapato...
Entrou um rock and roll puro, e todos foram “sentindo o som”... Loucos, sem-noção, sem dinheiro, e com muita fome.
Entrou um rock and roll puro, e todos foram “sentindo o som”... Loucos, sem-noção, sem dinheiro, e com muita fome.
O
desfecho? Surreal!
Vem o
flanelinha, simpático, sorrindo:
- E
“aê”, sangue bom, vai deixar uma merreca pro parceiro que vigiou a aeronave?
O
jeito era improvisar.
Todos
pelados, quase que de forma sincronizada, partiram um após o outro para cima do
flanelinha, pulando, com pintos e badalos balançando do lado de fora da calça e
cantando:
- "Estamos meu bem por um triz, pro dia nascer feliz. Pro dia nascer feliz.
Pro
mundo inteiro acordar, e a gente dormir, dormir. Pro
dia nascer feliz...".
O
flanelinha “deu linha” com suas muletas, que no momento lhe davam a velocidade
de uma Ferrari.
Rapazes
sem dinheiro, dançando à vontade, de fogo – naquele tempo não dava “rolo” beber e
dirigir. Talvez as pessoas tivessem mais consciência, havia menos carros, menor
quantidade de usuários de drogas ilícitas... Sei lá!
Estavam
felizes, e muito, mas decididamente o dia não nascia feliz para todos.
Que o
diga o flanelinha...
Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, contista e cronista, além de saudosista
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