quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O país do futuro


No MEU Brasil, xs artistxs assumiram o Ministério da Propaganda e isso permite que eles criem e atuem em espetáculos cada vez mais glamorosos e inovadores, principalmente depois de aprovada a Lei Antônio Pitanga de Incentivo Artístico, que substituiu a Lei Rouanet.
Um espetáculo muito famoso é “elefantinhos”, adaptação da célebre “macaquinhos”, onde os performers abrem a roda e se exploram introduzindo a tromba uns nos outros.
As profissionais da prostituição que não aderem às maravilhas sociais implementadas pelo coletivo feminazi e recusam o aborto, cuidam de seus filhos com a dignidade que o sistema igualitário proporciona a todos os cidadãos. E para obterem uma renda extra, trabalham em cooperativas de artesanato feito de material reciclável, o que lhes garante os mesmos ganhos dos camaradas advogados, médicos e engenheiros.
Mendigos, detentos, loucos e lazarentos, embora continuem vítimas da sociedade, cumprem as profecias de Marcuse e Deleuze ao assumirem seu papel revolucionário na criação do Jardim do Éden terrestre.
Quase toda a população é formada de pós-doutores, graças ao sistema universal de cotas que corrigiu um erro histórico, reservando vagas até nas creches de fundo de quintal. Os cursos mais disputados são os de Medicina Marxista, Engenharia Marxista, Direito Marxista, Direito Frankfurtiano, História Gramcista, Psicologia Foucaltiana, Sociologia Foucaltiana e Filosofia Marx-Gramsci-Foucaltiana. Todos agora são como as camareiras cubanas nos hotéis de Varadero: advogadas, psicólogas e pedagogas que falam 3 línguas. Tudo chique demais.
Os caucasianos, seguindo a tendência europeia, parcelaram suas dívidas históricas com os negros, prometendo quitá-las ao empenharem os esforços de até suas décimas gerações.
O país também se transformou num Estado Teocrático ao oficializar a “Igreja da Teoria da Libertação da Mãe Terra”, cujo culto à mandioca é obrigatório, submetendo o infrator ao “Tribunal Eclesiástico Humanista da Santa Cremação Revolucionária para o Bem de Todos”. Em meio a 957 mil e 352 leis pátrias, esse é um dos poucos crimes em que se aplica a pena máxima aos infratores: o paredón, modalidade de pena que, além de aplicada ao “crime de desobediência de culto”, também se aplica aos denominados “agentes questionadores da lei” pela prática dos chamados “crimes políticos reacionários”, crimes esses que desafiam a política oficial.
Os casos mais brandos de crimes passíveis da punição estatal, como o crime de “compartilhar a palavra conservadorismo nas redes ideológicas” (antigas redes sociais), admitem penas edificantes a serem cumpridas nos gulags construídos na Caatinga, complexos penitenciários compostos de celas-containeres. O objetivo é recuperar criminosxs caucasianxs e reinseri-lxs na sociedade através de aulas sobre o marxismo cultural.
Crimes como roubo, latrocínio e estupro só são atribuídos a descendentes de europeus.
Menores, mulheres, negros, índios, gays, nordestinos e muçulmanos têm direito à redução automática de penas para qualquer tipo de crime.
A evolução é tão acentuada que os outrora chamados pejorativamente de pivetes, agora cidadãos do mais alto escol, assinaram um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público Bolivariano (criado no mandato de Sua excelência) prometendo proporcionar uma morte assistida e humanizada a suas vítimas.
A pedofilia passou a ser um problema psicológico (merecidamente, diga-se) que obriga o praticante a frequentar um curso de 2 horas nas Clínicas Psicológicas Estatais. O mais importante é que não há agravamento em caso de reincidência.
Os manifestantes do Partidaço já não são mais aqueles profissionais alienados cooptados na rua e que prestam o serviço por 30 reais mais uma marmita ou um pão com mortadela e groselha, dependendo da hora da manifestação. Agora são estudantes de humanas com, no mínimo, especialização em táticas de guerrilha.
Tudo isso se passa em minha cabeça quando vejo um casal formado por um meninx e um rottweiler se beijando.
E pensar que um dia esse país foi conservador e fascista, e todos eram obrigados a ter família, filhos e tal, apenas para dar satisfação a uma sociedade patriarcal que cultuava uma religião exclusivista, clamando pelo retrocesso.

Fiquei feliz e sentei, chorando.

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