Era uma
pessoa ruim em sua essência, e a certeza veio após seu quarto marido confirmar
em alto e bom som, enquanto afivelava a bolsa do notebook, jogava malas e
outros recipientes com seus pertences no lombo e caminhava rumo à porta para
nunca mais voltar.
Deixava as
chaves na porta e sacudia os sapatos para não levar daquele “lar desfeito” sequer o
pó de minério de ferro com que a Vale empesteava a cidade.
- Liberdade,
afinal!!! - Gritou.
Não
tinham filhos, carros, cachorros ou samambaias, o que facilitava a decisão
de ambos.
Gertrudes estava
parada na antessala, com olhar fixo no horizonte enquanto elencava os defeitos
de Herculano. Partiria para outra – não tinha tempo nem talento para sofrer dores
de amores.
Deu vontade
de tomar um proudy mary, mas os drinques era ele quem fazia. Ela se virava nos
acepipes e sanduíches, sempre abusando da pimenta moída e deixando transparecer
o seu “fraco” por alecrim.
Pensou em
abrir o Chianti Galo Nero comprado há um mês, e sorvê-lo até a última gota.
Foi o que
fez.
Após abrir
a garrafa, deu um sorriso irônico e lançou
Chico Buarque no notebook acoplado à TV:
- “Eu vou
lhe deixar, a medida do Bonfim não me valeu...”.
Checou o
celular, abriu o facebook e mudou o status.
Pronto.
Agora estava sol-tei-ra!!!
Começaram
a chover mensagens na timeline e inbox, das amigas interessadas (mais na fofoca
do que dar “aquela força”), oferecendo o ombro amigo para a Gê
desabafar.
Fez charme,
agradeceu a grande preocupação de todas –
em 5 minutos, mais de 100 recados –, e fingiu estar triste e aborrecida demais
para falar no assunto.
Aproveitou
para conferir quem estava solteira, pois poderia ser uma virtual parceira para
convidar para o chope do fim de semana.
Cortou uns
pedaços de emental, maasdan e gorgonzola; preparou umas provoletas
e, junto com umas salsichinhas petisco, colocou tudo em cumbuquinhas.
Solteira
numa sexta-feira...
O momento
era inoportuno para sair, embora não fosse má ideia, pois a tv por assinatura estava com uma
programação daquelas que dão
vontade de rescindir o contrato.
Pensou em
sua família, da qual estava afastada; em seus pais, já falecidos.
Assistiu a
uma das 35 reprises de um filme francês com Jacy Borreau.
O vinho
estava acabando. Pensou em tomar banho e dormir.
Caminhou
para seu quarto, para sua cama... E foi só então que lembrou que
tinha medo de dormir sozinha.
Fernando
César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista,
contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesias
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