sexta-feira, 18 de junho de 2021

A calva

  

Há uma calva alva esperando

para atravessar na faixa

Mas, a guarda, ninguém baixa

Ela se demora, e enquanto o sol brilha

A calva sua e também brilha como sol

Ao refletir seus raios

 

A calva não se dá por vencida

E estende a mão como manda o figurino

Daí vem o motorista inconsequente

  um caminhão e quase a atropela

Babaca!

Se sua mãe o visse — e ouvisse, motorista,

  o que pensaria ela?

Xingada sem dó nem piedade,

pelo moço gordo que atravessava do lado oposto

 

Ah, a calva! A calva alva...

 

De repente, o motoqueiro, à toda,

  despenca da calçada acelerando

E quase lhe arranca um membro

É como se estivesse num enduro — o

  jogo é duro

Igual ao chão beijado após o desvio

  tresloucado

E depois de caído, com o corpo

  retesado

O capacete retirado; vai ralhar, 

  sem calma, com a calva:

— O que você faz na rua, 

  atrapalhando o trânsito?

Eu sou motoqueiro, faço entregas 

  vapt-vupt

Não tenho tempo para atrasos

E isso isenta minha responsabilidade

A culpa é sua, a culpa é sua,

Da calva que sua; e brilha como o sol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário