quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Onde é que eu estava o tempo todo? Ocupado demais (I)


Na minha juventude, o período escolar se dividia em primeiro e segundo graus, e eu terminei muito cedo, pois “pulei um ano” em razão de problemas particulares que acabaram me beneficiando. Não sabia o que fazer da vida, mas, como um grande amigo foi aprovado por uma faculdade, lá fui eu tentar ser admitido por outra, que aplicava provas após todas as demais entregarem o resultado, a fim de pegar a “rapa do tacho”. Eu tinha que fazer, por que, senão, “o que é que eu iria dizer lá em casa?”
Optei por Licenciatura em Matemática, por ser uma disciplina da qual sempre gostei, mas abandonei o curso e fui fazer várias coisas, como: estudar música, tocar na noite, trabalhar em trailer, montar um pequeno negócio... Nada com muita responsabilidade.
Quando finalmente decidi abraçar uma profissão mais estruturada, fui estudar Direito, de olho no leque de carreiras que se abrem no serviço público, onde poderia me escorar, já que nesse país, para desgraça do empreendedor, é um excelente negócio trabalhar para o Estado. Para advogar – descobri mais tarde – o bom mesmo é ser “vaselina”, escorregadio, e não misturar as coisas da moral com as da profissão.
Quase no fim do curso, conheci a minha esposa e mudei. Saí do Rio de Janeiro para morar no Espírito Santo, com uma excelente proposta de emprego para um estagiário. Pela primeira vez na vida experimentava mudar de residência. E que mudança! Saía da casa de um bairro simples, em que meus pais já moravam antes de eu nascer, para viver num bairro praticamente sem casas, próximo à praia, a quinhentos quilômetros de distância... E casado.
Na faculdade, foi difícil a adaptação, pois nas turmas já havia grupos formados, e eu ainda assistia a aulas em várias delas. Por pura sorte, participei de uma formatura organizadíssima, substituindo um dos colegas, que desistiu na última hora.
Certamente, toda essa mudança custaria alguma coisa, e foi um ano a mais de curso, para adaptação da grade curricular. Só que, na verdade, levei uma beiça da faculdade, que me cobrou por disciplinas que cursei, mas depois foram dispensadas, tanto que não constam do meu histórico escolar. Quer saber o resultado da ação reparatória que ajuizei? Basta dizer que o ministro do STF que julgou em última instância é dono de faculdade, e, sim, amiguinho, ele jamais criaria jurisprudência para tomar prejuízo no negócio posteriormente... Ah, a justiça!
Acabei o curso em 2002 e, concomitantemente, ingressei na Escola da Magistratura e na primeira pós-graduação. Depois, fiz cursos de reciclagem e preparatórios para concursos públicos – queria ser juiz ou defensor público, nunca membro do Ministério Público. Após a segunda pós-graduação, batalhei por um mestrado cuja mensalidade eu poderia pagar, mas a vaga me foi negada por eu não ser esquerdista o suficiente (isso ficou bem claro pra mim na entrevista).
Em seguida, passei a me interessar por política – não partidária –, e uma venda foi retirada dos meus olhos, aquela que cega os idiotas úteis que acreditam que o comunismo, o socialismo ou qualquer porcaria que defenda um regime coletivista, realmente se preocupa com o ser humano. (Para piorar, posteriormente, descobri que há individualistas que batem pauta com esses coletivistas.) Acredito que foi pura sorte minha, pois estaria envergonhado se tivesse “adaptado” meu projeto de dissertação, como queriam as simpáticas senhorinhas que avaliaram os três candidatos à vaga única do mestrado.
O comportamento de certa forma intransigente em alguns assuntos, o qual norteia minha vida, rende críticas de gente mais esperta que eu, de quem, para meu próprio bem, diz que eu deveria “jogar o jogo”. Não consigo. É da minha natureza, e me sinto velho demais para certas mudanças, mormente de cunho moral.
Passei anos estudando muito (estudo até hoje, como requer minha profissão), e não pude perceber as mudanças havidas (para pior) na sociedade, no comportamento da população, a partir da ascensão do lulopetismo no Brasil, embora seja importante não esquecer que o pontapé inicial foi dado por FHC. E que pontapé!
Quando comecei a ler livros sobre o conservadorismo; a me inteirar do que Marx e seus asseclas realmente escreveram e, principalmente, dos crimes de Stálin, Mao Zedong, Pol Pot, dos irmãos Castro e de toda a corja responsável por mais de 100 milhões de mortes em tempos de paz; e quando soube de histórias como holodomor, fiquei muito irritado por ter sido um idiota que usava broches de Che Guevara e desenhava a foice e o martelo nos cadernos do colégio, na juventude.
Descobri que havia sido vítima de doutrinação por formadores de consenso, mas muita coisa ainda estava por vir. Pelas redes sociais fui tendo acesso a um mundo desconhecido, uma espécie de mundo paralelo, no qual havia muitas pessoas ruins influenciando inúmeros idiotas (úteis) que repetiam jargões, palavras de ordem, agindo como bodes cegos ao espocarem fogos de artifício. Doía saber que tinha sido um dos bodes.
A cada dia leio e ouço coisas que me deixam envergonhado de dividir a categoria de ser humano com quem, p.ex., defende que drogados tenham o direito de se drogar mais – o que, na prática, leva-os a cometerem crimes contra inocentes, quando acaba o dinheiro para mais drogas –; com quem concorda que crianças (mesmo depois de nascidas) sejam mortas por vontade da “mãe-hospedeira”; com quem aprova a venda de crianças por pais que não tenham condições ou não queiram sustentar os filhos; com quem luta para que suas perversões sexuais sejam ensinadas a crianças de 5, 6 anos de idade; com quem exige o patrocínio estatal de cirurgias de mudança de sexo e também o fornecimento de hormônios, tratamento etc., e entende que crianças podem decidir amputar partes do corpo para mudar o sexo; com quem diz que é uma cabra, um reptiliano ou outra coisa, e quer impor que isso seja aceito com naturalidade; com quem trata melhor animais e plantas que outros seres humanos; com quem silencia diante da ditadura do politicamente correto, para não ofender aos “sensíveis”...
Diante de casos como esses, há quem repita as palavras de Silvio Brito: “Pare o mundo, que eu quero descer!”. Mas isso está errado. Os lunáticos é que devem descer.
E você? Não está sabendo, não ouviu falar disso? Então, pare de assistir à programação bizarra da TV, faça algo decente por sua vida e pela sociedade, e nunca (NUNCA!) acredite naqueles que se dizem humanistas e “lutam por um mundo melhor”. Muitos deles podem até amar a “humanidade”, um ente abstrato, mas odeiam o indivíduo que está próximo. São pessoas perniciosas que, mesmo sem saber, lutam por um projeto de poder que visa apenas a escravizar pessoas, tirando seu sangue para dar boa vida a sanguessugas instaladas no poder e seus apaniguados.
(Continua... e é melhor)

Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

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