João
prometeu a si mesmo que comeria pela última vez aquela gororoba sem sabor, sem
“tumpero” na casa de Onofre, o simpaticíssimo amigo de longa data. O caldo do feijão
com gosto de água pura, sem sal... Argh!
Ele
já havia experimentado algo tão insípido, num dos dias mais sofridos de sua
vida (e na sua casa!), quando um boçal que o visitava, querendo se exibir, insistiu
para João e sua esposa testarem seus dotes culinários. Dizia o “Jacquin da
periferia” que a opinião dos dois, amantes da boa comida muito antes da “onda
gourmetizadora” invadir os lares brasileiros, era deveras importante.
Para
desgosto do casal, a comida era ruim de doer. Intragável! Havia um inesquecível
purê de batatas feito com água, acompanhado de uma bisteca que depois de cozida
tomou um banho de água quente para formar o “caldo”. Aquela incursão na cozinha
dos pesadelos, que já era um desastre total, conseguiu ter um final ainda pior:
o ambiente azedou de vez quando o falso cozinheiro não recebeu os esperados
elogios, e danou a soltar piadinhas. Mas o saldo foi positivo: João não teve
mais que se submeter àquele tipo de saia justa, já que o idiota desembarcou de
mala e cuia de sua vida, para nunca mais dar o ar da (des)graça.
A
situação com Onofre era diferente, pois a responsável pela má cocção dos
alimentos nobres e exóticos que ele gostava de servir aos amigos, era a
cozinheira. E como João estava certo de que o anfitrião preguiçoso tinha
conhecimento da falta de dotes culinários da empregada, resolver o contratempo seria
simples. Bastaria sugerir a mudança de endereço dos próximos rega-bofes, marcando
o almoço das quintas-feiras no Bar do Wilson, que não era um asno, mas um ás no
fogão. Wilson os receberia com prazer, e iria prontamente para a cozinha, tirar
de letra os desafios culinários.
Fernando César Borges Peixoto
Advogado, niteroiense, metido a
escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que
agora inventou de escrever poesia.
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