quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Vinho no livro


Acho ótima a combinação da leitura de um livro e um bom vinho mais finger foods – não esqueço o guardanapo, é lógico. Há quem prefira o café, e eu concordo, dependendo da ocasião. Pode ser um excelente “negócio”, no horário apropriado; e assim me vejo, às vezes, em Paris, mal atendido por um estúpido e carrancudo garçom, que não se esforça para agradar porque a gorjeta é garantida. Em minhas mãos, um romance de Fiódor Dostoiévski – pode ser de Jorge Amado –, ou obras de Régine Pernoud ou Louis Lavelle.
Não, não sei se é bem isso o que quero. Tenho dúvidas se devo conhecer a França agora, sob a irreversível invasão muçulmana, e os incansáveis atos terroristas. Quero paz, e não sentir medo de ácidos, facas ou explosões. Tenho algo próximo a isso no Rio de Janeiro, e lá a hospedagem é de graça.
Voltando ao vinho, ele já deixou muitas marcas pelas páginas de meus livros. Já dei um banho muito bem dado, com uma taça generosamente abastecida, em António Gramsci – e foi bem no meio dos cornos. Pena foi estragar o vinho; se pudesse, teria usado ali um “cœur de bœuf” (Hehehe).
Inadvertidamente, sempre deixo a marca de uma gotinha nos livros que leio acompanhado da bebida que Jesus também degustava, junto aos amigos. Não vejo problemas nisso, já que não atrapalha uma nova leitura.
Mas eu só pareço legal, pois, apesar de adquirir livros em sebos e em grupos específicos, não gostaria de ler algum com mancha de vinho deixada por outra pessoa. Sentiria ciúmes ou inveja daquela relação íntima anterior a minha, declarada ali, sem pudores.
Sim, sou egoísta, e só aceitaria a marca se tivesse sido deixada por Jesus Cristo, mas eu sei que aí seria pedir demais.



Fernando César Borges Peixoto

Advogado, niteroiense, metido a escritor, ensaísta, cronista, contista e, de certa forma, um saudosista que agora inventou de escrever poesia.

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