Eu
tive um sonho, vou lhes contar...
Sonhei
que nossos artistas esquerdistas milionários haviam dividido suas fortunas
com pessoas carentes de todo o mundo, em especial brasileiras, e se recusaram a
aceitar dinheiro de leis de incentivo, como Rouanet e do Audiovisual, antes
mesmo delas serem revogadas. Comediantes sem graça e carisma haviam
desistido das carreiras profissionais, e dispensado o dinheiro público que
patrocinava as excentricidades e panfletagens ideológicas que chamavam de trabalho.
Cantores
da MPB, seguindo os mesmos passos, vendiam seus imóveis de luxo no Brasil e no
estrangeiro, para esquentar o mercado imobiliário das periferias do Brasil e de
países como China, Afeganistão, Vietnam, Guiné-Equatorial, Cuba e Coreia do Norte.
Em verdade, os adeptos do comunismo raiz haviam transformado Pyongyang em seu
destino preferido. Mas, para não cometer injustiças, a Albânia era um país
europeu muito disputado.
Artistas
da maior emissora de TV do país se negavam a dar palpites na política,
assumindo que não possuíam capacidade intelectual para tanto, porque não haviam
estudado nada que os habilitasse a tratar de assuntos mais profundos. E
feministas do meio artístico e midiático trocavam férias na Europa e nos
Estados Unidos por turismo nos países árabes, onde diziam haver menos
opressão que no Brasil.
Jornalistas
haviam feito passeatas, pedindo que os veículos de notícia se posicionassem
politicamente, para evitar que ouvintes e leitores fossem enganados por
discursos ideológicos transmitidos como notícias verdadeiras; e agências de
fact check foram fechadas a partir de movimentos liderados por partidos de
esquerda, estudantes e jornalistas, acusadas de descumprirem sua finalidade, ao
validarem notícias falsas (fake news) de seus pares, e condenarem notícias
verdadeiras de viés político oposto ao de seus administradores.
Os
espaços das universidades federais - que agora cobravam mensalidade ou trabalho
voluntário após a formatura, como forma de retribuir o ensino gratuito -,
passaram a ser divididos democraticamente entre coxinhas, mortadelas e outras
variedades alimentícias. As pichações estavam proibidas, e a polícia podia
adentrar os campi sem manifestações contrárias, para prender "traficantes
com consciência social".
A
academia aceitava, nas pós-graduações, pessoas de todas as vertentes de
pensamento, e o dinheiro para pesquisa não era mais distribuído apenas entre
quem se alinhasse ideologicamente ao governo. Com o tempo, o país passou a
ser mais respeitado pela comunidade científica.
Estudantes
de classe média, defensores de teorias derivadas do pensamento marxista, usavam
G-Shock e smartphones da CCE, e dispensavam seus pais de lhes comprar aparelhos
eletrônicos de ponta e as drogas do dia a dia, preferindo pagar com o suor do
trabalho no Vegan Donald’s. Os mais engajados fizeram um movimento exigindo que
os professores deixassem de aprovar alunos ineptos.
Jovens
moradores de bairros nobres que defendiam os direitos dos criminosos e a
liberação do uso de drogas ilícitas, depois da fase inicial de expulsões de
suas casas, mudavam espontaneamente para as periferias; e os espaços que antes
ocupavam, eram cedidos a moradores de comunidades carentes que enfrentavam
horas no trânsito, de sua casa para o trabalho e vice-versa, para ocuparem
melhor seu tempo.
Por
obra do PCdoB do meu sonho, a inveja sobre bens alheios havia sido
criminalizada, e ninguém mais poderia atacar as pessoas bem sucedidas pelo
simples fato de serem... bem sucedidas.
O
PSOL do meu sonho havia proposto duas alterações no sistema penal: uma lei
estabelecia que menores de qualquer idade, que cometessem crimes hediondos,
responderiam como adultos; e outra lei estabelecia, para os demais crimes, a
menoridade penal aos 14 anos. Nas ruas, em prol da aprovação, a militância
gritava: “se pode foder, matar e cheirar pó, pode viver no xilindró”.
Ministros
das cortes superiores do Judiciário combinaram um pedido de demissão em massa,
e se colocaram ao escrutínio do povo, para aprovação da sua volta. Apenas três deles
voltaram a exercer suas funções; e os que sequer saíram do traço na apuração
dos votos, agradeceram e se propuseram a melhorar.
Aquilo
tudo era lindo, mas eu me sentia agoniado. Eram tantas mudanças, e tudo
acontecia tão depressa, que eu temia fazer algo errado que acabasse me levando
à prisão até o fim de meus dias, proibido de ver esposa e filhos. Outra coisa
que me passava pela cabeça era a possibilidade de, a qualquer momento, aparecer
um debilóide dizendo: “Rá! É pegadinha! Glu-glu, ié-ié” ou algo do gênero.
De
repente me vi num local escuro, suando frio, apavorado, olhando repetidamente
para os lados. Qualquer estalo fazia meu coração saltar do peito. Um barulho
estranho começou a incomodar quando, de repente...
Acordei
com uma barulheira infernal – o vizinho de trás havia ligado a serra
que ele insiste em colocar para funcionar bem cedinho, talvez para acordar os
galos. Afinal, deve ser tão comum encontrar um galo num bairro de mais de
noventa por cento de edifícios, quanto é encontrar alguém com uma serra
elétrica industrial no fundo do quintal, nesse mesmo bairro.
Aproveitei
para lavar as fuças e ir à feira, porque dormir não dava mais não.
Era
sábado.
Fernando César Borges Peixoto
Advogado,
niteroiense, conservador, gosta de escrever e, de certa forma, é um saudosista.
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