Eles se conheceram num barzinho em frente à Universidade,
depois do intervalo, quando quase ninguém voltava para a sala de aula.
Ela, veterana, casada, dois filhos adolescentes, aparentava
ser mais nova do que realmente era. Estava ali só tomando um chope antes de ir
embora. Ele, calouro (embora tenha cursado outra faculdade), não era jovem, e possuía
um pequeno comércio, que não andava muito bem das pernas àquela altura. Solteiro,
não conseguia manter relacionamentos sérios por mais de 3 meses. Estava ali a
convite de um colega de turma, que queria lhe apresentar a prima da namorada,
que deu um bolo porque adoeceu. (Não conheceu essazinha.)
Ela de Humanas, ele de Exatas, começaram a se ver e
conversar frequentemente; e foram lá dividindo as diferenças de suas áreas, as
peculiaridades de suas vidas privadas, e as esquisitices que percebiam nos colegas de curso e nos professores, enquanto se entreolhavam com sensualidade e desejo.
Certo dia, ele ofereceu carona e ela aceitou. Ao se
despedirem, nas proximidades do mega-condomínio de 22 blocos em que ela morava
com marido e filhos, seus lábios rasparam meio que por querer e as doses de
vodca deram o tom do beijo lascivo, babado, totalmente isento de cuidados com
olhos vigilantes.
Cheio de tesão, ele, abusado, dirigiu sua mão (a
dela) à verga que latejava dentro da calça. Ela assustou e, recompondo-se,
disse que não deveriam fazer aquilo, que ele fora indelicado, e que não havia
espaço para um relacionamento adulterino, porque ter amante é algo que custa muito caro,
tanto financeira quanto emocionalmente. Atônito, ele concordou.
Despediram-se, e ele, no caminho, já ligou para um
contatinho, noiva de uma espécie de caixeiro viajante moderno, totalmente
isenta de escrúpulos, e que possuía uma boquinha de veludo. Morava com a avó,
que àquela hora estava no terceiro sono, o que era conveniente: ninguém o veria
entrar na casa, evitando perguntas incômodas; e a possibilidade da velha
acordar era um bom argumento para ir embora tão logo encerrassem os atos (no mínimo,
2). A noite encerrou tão bem que esqueceu o contratempo em dois minutos.
Era fechamento do 1º semestre, ficaram quase um mês
sem se ver, mas sabiam que os cursos continuariam, e o barzinho não sairia do
lugar – se saísse, outro empresário alugaria o excelente ponto.
Na volta às aulas, encontraram-se meio envergonhados,
mas as amigas dela entregaram que houve algum comentário, ao fazerem indicações
indiscretas com os olhos, e darem sorrisinhos marotos.
Ele as cumprimentou com os tradicionais beijinhos nos
rostos de cada uma, e disse que ficaria com o pessoal da sua turma, quando ela
o segurou pelo braço, pedindo que voltasse. Essa foi a senha, e dali engataram
o que eles chamaram de “rolo”. As caronas diárias serviam para disfarçar os encontros
furtivos em que praticavam sexo ou, ao menos, algo libidinoso, um dia sim e o
outro também.
Após 2 meses desse namorico, chegou a época das provas;
e logo na primeira, resolveram passar a tarde estudando num motel, pois aproveitariam para transar nos intervalos. De tão inebriados, esqueceram que frequentavam cursos totalmente diferentes.
Mas pagaram para ver, já estavam lá mesmo...
Como se esperava, não estudaram, ficaram na pegação.
E nesse dia ele deu uma coça nela. Por pura sorte, foi em seu período de maior virilidade. Apesar da safadinha ter um fogo danado, foi diferente. Ele usou, abusou e abusou de
novo, nas formas possíveis e imagináveis, repetidas vezes, explorando situações
e posições que ela, experiente, ainda não experimentara por nojo, receio ou desconhecimento.
Casada há bastante tempo, era seu primeiro amante - nunca tinha se entregado
tanto. Sentiu-se descontraída, livre, nas seis horas (daquilo o que se costuma
dizer) “de pau dentro”.
A intensidade foi tamanha que nem cederam à fome,
deixando para comer um dogão na Barraquinha do Barbicha, instalada na calçada
do prédio de Humanas.
Exaustos, com as barrigas forradas, foram às
provas, mas marcaram de se encontrar depois, no lugar habitual, aonde chegaram
com ares de quem não se via há muito tempo. Mal desconfiavam que todos ao redor
sempre souberam que eles se pegavam. Os olhares haviam denunciado. Ah, os
olhares! Esses que, nos apaixonados, entregam tudo.
Na carona para casa, ela confidenciou que nunca se
sentira tão completa e saciada, e que por um bom tempo não queria “vê-lo”; ao
mesmo tempo, ele vinha pensando num sexo oral de boa noite. Não restando alternativa,
sorriu.
Ficaram assim, sem se tocar, por duas semanas.
***
Chegava ao fim o 4º período para ele e a
faculdade para ela, que perguntou o que fariam a partir dali.
Ele, com medo de se envolver mais ainda, e acabar
apresentando a fatura emocional que ela havia falado lá atrás, sobre as implicações de um caso extraconjugal, sopesou, rapidamente, o fato de não reunir condições de dar um passo adiante, e constituir
um lar para o qual ela viria com filhos já marmanjos; além da sua incapacidade de
se envolver afetivamente com alguém por muito tempo. Como aquilo já ia longe
demais resolveu dar um basta.
Houve sofrimento, choro e vela, mas também resignação.
Afinal, eram adultos.
Ela voltou os olhos para a família, que de certa
forma havia deixado de lado, e em pouco tempo superou aquela separação; ele esperou um ano após a fatídica despedida para começar um namorico com uma delicinha do primeiro período de Letras – àquela altura, já cursava o 4º ano.
Enquanto esteve emocionalmente abalado pelo fim não programado da
relação, nem o estepe a quem costumava recorrer esteve disponível: a avó da cremosa
havia morrido e ela se casou, caindo no mundo com o caixeiro viajante.
Foi por esse motivo que optou
pela quarentena; um período sabático em que evitou “ver alguém”. Não queria nada sério depois daquela ruptura decidida
de supetão; e nem tinha motivos para pensar diferente disso.
Nada lhe apetecia...
Fernando César Borges
Peixoto
Advogado, niteroiense, gosta de escrever e, de certa
forma, é um saudosista.
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